Plantão Policial

Delegados detalham a prisão e como agia casal de colombianos agiotas em Teresina

Segundo investigações, o casal controlava a concessão irregular de crédito e a estrutura de cobrança

A Polícia Civil do Piauí cumpriu, nesta quinta-feira (11/12), uma nova etapa da Operação Macondo , que mira um grupo estrangeiro especializado em agiotagem, lavagem de dinheiro e coerção violenta contra vítimas endividadas em Teresina. Nesta segunda fase, um casal de colombianos Oscar Eduardo Rengifo Medina e Daniela Fernanda Pinchao Ceron , foi preso após investigações apontarem que ambos o cupavam posição de comando no esquema .

A ação integra o Pacto Pela Ordem e envolveu força-tarefa da Polícia Civil, Polícia Militar, Superintendência de Operações Integradas (SOI) e Força Estadual Integrada de Segurança Pública (FEISP). Foram cumpridos dois mandados de prisão, dois mandados de busca e apreensão e determinado bloqueio de R$ 5 milhões do casal , quantia considerada incompatível com qualquer renda declarada pelos investigados.

As apurações revelaram que Oscar e Daniela atuavam como responsáveis diretos pela operação ilegal, controlando desde a concessão irregular de crédito até a estrutura de cobrança e a expansão do grupo na capital. O modelo aplicado pelo casal repetia o padrão identificado na primeira fase da operação , deflagrada há cerca de dois meses, quando 15 estrangeiros já haviam sido presos.

Em entrevista, o superintendente de Operações Integradas, Matheus Zanatta, detalhou que o casal estava hierarquicamente acima dos demais presos na etapa anterior. Ele explicou que, durante o cumprimento dos mandados, houve tentativa de destruição de provas :

“O investigado tentou dispensar esse celular pela janela do banheiro, a equipe foi rápida, conseguiu fazer a apreensão desse celular, e nós, analisando as contas bancárias desses investigados, verificamos que eles movimentaram uma quantia de quase R$ 5 milhões.”

Segundo o superintendente, o casal vive no Piauí há pelo menos seis anos e sempre atuou na prática de empréstimos com juros abusivos, ultrapassando 30% ao mês . O sistema funcionava como uma verdadeira franquia criminosa, mantendo estrangeiros alocados em pontos específicos para conceder crédito, cobrar parcelas, recolher valores e monitorar comerciantes endividados.

“Eles começam a ameaçar, para causar violência psicológica e física. Também faz a subtração de objetos desse devedor, justamente para garantir o pagamento dos juros e do valor emprestado... Eles desenvolvem uma espécie de franquia, onde cada estrangeiro tem o local específico que vai fazer o empréstimo desses valores, com toda uma estrutura.”

O padrão de vida do casal também chamou atenção dos investigadores: carros novos, motocicletas e até aparelhos celulares de alto valor foram apreendidos , apesar da ausência de qualquer atividade lícita declarada.

O delegado Roni da Rocha, responsável por aprofundar a análise da dinâmica das cobranças, destacou que o método adotado pelo grupo era pensado para induzir comerciantes ao endividamento , criando uma falsa sensação de facilidade de pagamento.

“A forma como o empréstimo era feito induz a vítima a acreditar numa facilidade de pagamento, justamente pela fragmentariedade das parcelas. Eram parcelas diárias, pequenas, que somadas dava um grande volume, porém a fragmentação disso dava falsa impressão.”

Ele reforça que a dívida rapidamente se tornava impagável, e a partir daí os métodos coercitivos começavam.

“Uma vez iludida, a pessoa começava a se endividar... começavam os métodos coercitivos de cobrança, desde apreensão de objetos de valor até ameaças expressas ou implícitas. Não eram simples cobranças, e sim cobranças que deixavam evidente a possibilidade de violência.”

Um dos casos investigados em Teresina chegou a gerar um ambiente de extremo abalo emocional, levando uma das vítimas a comportamento suicida por causa da pressão psicológica .

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