Perfis homenageiam faccionados mortos no Piauí e trocam farpas nas redes sociais
Páginas publicam vídeos em memória de vítimas e geram discussões entre rivais nos comentários
Perfis anônimos nas redes sociais têm se especializado em publicar homenagens a jovens mortos supostamente ligados ao crime organizado no Piauí. As postagens, feitas principalmente no Instagram, trazem vídeos editados com fotos dos vitimados ainda em vida, acompanhados de músicas melancólicas e mensagens de luto. Os conteúdos são frequentemente comentados por amigos, parentes e, em alguns casos, por supostos membros de facções criminosas.
A reportagem do Conecta Piauí identificou ao menos três páginas com esse tipo de conteúdo, todas com foco em "homenagear os manos e manas que se foram", conforme descrito nas biografias. Nos comentários, além de mensagens de saudade e apoio, há também provocações entre usuários que parecem fazer parte de facções rivais. As interações incluem xingamentos, ameaças veladas e referências a organizações criminosas conhecidas.
Além da repercussão dos vídeos, o conteúdo chama atenção pelo tom de disputa entre facções. Em alguns comentários, usuários afirmam que determinada pessoa “foi pro inferno” ou “mamou ótimo”, expressões usadas como deboche ou ataque a rivais. Essas manifestações escancaram uma dinâmica que extrapola o mundo físico e passa a disputar espaço no ambiente digital.
Alguns desses comentários inclusive são relacionados a uma homenagem ao adolescente de apenas 15 anos que morreu na noite desta sexta-feira (18) na região do bairro Jacinta Andrade, ao ser baleado enquanto tentava invadir a casa de um PM . O indivíduo estaria com outros comparsas realizando arrastões na região quando tentou invadir a casa do policial, que reagiu e efetuou um disparo de arma de fogo. Um dos comparsas dele tinha 13 anos.
Especialistas ouvidos pela reportagem alertam para o impacto dessas publicações na naturalização da violência e no fortalecimento simbólico das facções nas redes sociais. A Polícia Civil e o Ministério Público do Estado já investigam perfis ligados à apologia ao crime e ao uso das plataformas para recrutamento e ostentação criminosa.