Trucagem

Oppenheimer: a sensibilidade de Christopher Nolan

Nolan é conhecido pelo seu amor aos efeitos práticos, amando o desafio de representar grandes cenas

O diretor Christopher Nolan é um dos mais cultuados atualmente, conseguindo carregar um grande número de espectadores ao cinema. Seu trabalho mais recente foi o filme “Oppenheimer”, que acompanha uma parte da história do físico J. Robert Oppenheimer (interpretado por Cillian Murphy), mais conhecido como o ‘pai da bomba atômica’.

UMA BIOGRAFIA DIRIGIDA POR NOLAN

Nolan é conhecido pelo seu amor aos efeitos práticos, amando o desafio de representar grandes cenas de ação sem o uso de computação gráfica (CGI), como nos filmes “A Origem” e “Tenet”. Ao se imaginar um filme que conte um pouco sobre a criação da bomba atômica por um diretor como Nolan, espera-se bastante de como isso será reproduzido.

Em “Oppenheimer”, tem-se o uso mais maduro do recurso por Nolan, uma vez que se nota um bom senso na representação de uma bomba atômica, com a criação de uma experiência visual e sensorial, sem apresentar de forma explícita os efeitos da arma. É criada uma atmosfera de caos com essa estética sensorial associada um pouco da perturbação apresentada de Robert Oppenheimer.

Foto: Reprodução/Universal Pictures
UMA BIOGRAFIA DIRIGIDA POR NOLAN

A QUESTÃO ENTRE TRAGICO E SENSIBILIDADE

Quando lançado, o filme levantou no X (ex-Twitter) uma discussão a respeito de como os ataques a Hiroshima e Nagasaki foram tratados e não desenvolvidos pelo diretor. Muitos afirmaram que Nolan deveria ter abordado diretamente as consequências das bombas, as pessoas queriam a representação explicita da tragedia que aconteceu no Japão.

Fico do lado dos colegas que comentaram o quão absurdo é esse pedido, tendo em vista o estilo de direção do Christopher, conhecido por uma certa insensibilidade e fascínio por grandes cenas de ação. Além do importante fato de se tratar de um diretor estadunidense, podendo resultar em uma visão parcial da narrativa do lançamento das bombas.

Foto: Reprodução/Universal Pictures
Oppenheimer: a sensibilidade de Christopher Nolan

Com um aumento de conteúdos de true crime, também é importante notar um crescimento de interesse por tragedias reais, quase que como um fetiche por tristes histórias, esperando algumas vezes por representações mais gráficas que se aproximem do real. Por se tratar de uma história real, uma guerra bastante complexa, representar de forma direta os efeitos e consequências dessa bomba dentro do contexto que o filme está inserido seria bastante desrespeitoso, podendo facilmente resultar em cenas de péssimo gosto.

Em “Oppenheimer”, ao contrário do apontado, houve sensibilidade ao abordar o assunto, não se tem cenas explicitas, mas é a atmosfera do filme que induz o espectador a essa sensação de angustia, caos, sendo até bastante claustrofóbico, associando os acontecidos a uma iminente tragedia de alto nível.

O modo como é retratada essa natureza humana sem humanidade é na medida certa, se relacionando bem o desenvolvimento do personagem interpretado por Cillian Murphy em uma visão macro da obra. Desde o inicio, o personagem é apresentado como um ser atormentado, com seus remorsos, contradições e a constate briga de ego dentro do meio cientifico (que se torna mais nocivo no período de uma das guerras mais destrutivas da história mundial, a Segunda Guerra Mundial).

O desenvolvimento é gradual, com seus altos e baixos, partindo desde a cena da maçã até o julgamento final, desde a sua relação com a URSS, o partido comunista e todas as consequências em sua vida.

Foto: Reprodução/Universal Pictures

É bastante insinuado o peso que Oppenheimer sente ao ser considerado o ‘pai da bomba atômica’. Mantem-se em um limbo entre o heroísmo e martírio do personagem, ao mesmo tempo que se desenvolve os remorsos e sentimentos de culpa do físico em relação as tragedias vindas da bomba.

Sendo assim, levanta-se também a questão da própria história norte americana, principalmente no referente as suas participações na guerra. Além disso, há uma “justificativa” de que aquilo encerraria a guerra, uma vez que mais países com a posse do conhecimento da arma poderia desencadear no fim do nosso planeta.

O CARATER AMERICANO NA GUERRA – A MUDANÇA ÚNICA NO MUNDO APÓS A CRIAÇÃO DA BOMBA ATOMICA

O ato final do julgamento é bastante interessante, mesmo que recorra a algo comum em filmes de tribunais, com esse grande jogo de como seria uma audiência pública, com a mídia e uma grande reviravolta vinda de um personagem possivelmente inesperado.

Todo esse terceiro ato conversa com o filme de modo geral, trazendo uma importante conclusão a obra, mesmo que não se defina heróis e vilões, afinal, é uma história muito complexa para tratar de forma binária e maniqueísta. Diante de tudo isso, é o tipo de filme que todo mundo deve assistir (mesmo que goste ou não) devido as complexas e provocativas discussões que podem ser levantadas.

O filme segue em cartaz nos cinemas (no caso de Teresina, com sessões no Cinemas Teresina e Cinepólis Rio Poty) já tendo levado cerca de 2,5 milhões de brasileiros as salas de cinema, sendo o maior lançamento de Christopher Nolan no país, segundo a Universal Pictures.

Leia também