Aumento dos casos de infarto entre jovens está relacionado a vacina, diz médico

Entre jovens de até 30 anos, o crescimento foi 10% acima da média

Segundo levantamento do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), com base nos dados do Ministério da Saúde, os casos de infartos registrados por mês no Brasil mais que dobraram nos últimos 15 anos. A média mensal de internações decorrentes subiu quase 160% no mesmo período - entre jovens de até 30 anos, o crescimento foi 10% acima da média, conforme os dados.

No Piauí, casos de infarto como o da adolescente Camile Vitória Vasconcelos, de 16 anos, em 2021, e do jovem estudante da UFPI, Luiz Felipe Lima, que aconteceu este ano, tem comovido a população. Em entrevista ao Conecta Piauí , o cardiologista clínico Mauro Guimarães Albuquerque explicou que entre as principais causas do aumento de infarto entre os jovens estão a má alimentação desde criança, falta de exercício físico e, em alguns casos, inflamações causadas pela vacina contra a covid-19.

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Casos de infarto entre jovens aumentam

A melhoria no diagnóstico também é um dos motivos desse aumento no registro dos casos de infarto entre os jovens, segundo o cardiologista Mauro Guimarães, que também é sócio titular das sociedades de cardiologia e de cardiologia intervencionista.

“Um dos motivos é a melhoria no diagnóstico, as pessoas estão procurando mais. Quando se tem o quadro de dor torácica, mesmo os quadros atípicos, as pessoas estão indo, estão tendo mais acesso ao sistema de saúde e a melhoria nos exames de diagnóstico, melhor acesso principalmente ao eletrocardiograma e alguns exames laboratoriais”, explicou o cardiologista Guimarães.

A alimentação mais rica em gordura desde a infância também é um dos fatores que prejudica a saúde do coração. Por começarem a se alimentar mal logo na infância, a possibilidade de ter um infarto, e ainda mais cedo, pode ser maior, segundo o especialista, já que a criança pode estar acumulando gordura nas artérias.

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Artérias

“A alimentação mudou, é muito mais rica em gordura, com algumas exceções, tem muitos conservantes, corantes, então, a alimentação é um ponto muito importante. [...] Você vê que crianças de famílias que tem uma alimentação desregrada, como alguns casos norte-americanos. Teve um estudo norte-americano que mostrou que essas crianças já começavam a acumular gordura nas suas artérias desde a infância. E isso às vezes, dependendo da genética da pessoa, pode se mostrar de forma acelerada e aparecer como uma síndrome coronariana, como infarto, antes dos quarenta anos”, detalhou o especialista.

Existem ainda outros fatores relacionados a genética que já aparecem na primeira infância, como a diabetes. "Tem os outros fatores relacionados à aterosclerose, que são a hipertensão, a diabetes. Nós temos um tipo de diabetes, a diabetes tipo um, que aparece como uma condição genética. Então, aparece na primeira infância e isso vai ter implicações no organismo da pessoa durante toda a vida”, disse o Guimarães.

“Há pessoas que tem doenças renais, pessoas que tem dislipidemia familiar, ou seja, é uma condição genética que a pessoa, mesmo tendo uma dieta adequada, ela tem o colesterol extremamente elevado. E fatores relacionados aos hábitos de vida, como o sedentarismo, o tabagismo, consumo excessivo de bebida alcoólica”, completou.

INFARTO CLASSIFICADO EM QUATRO CLASSES PRINCIPAIS

- Aterosclerótico : ocorre a formação da placa de gordura e ela se acumula nas artérias, essa placa se rompe e acaba obstruindo o fluxo de sangue;

- Cardíaco não aterosclerótico : causado por espasmos, má formações arteriais. "Pessoas que nascem com a coronária num local diferente do normal, isso pode causar um infarto ou que elas mergulham no músculo cardíaco chamado ponte miocárdico, é o segundo tipo e pode causar infarto", disse o cardiologista.

- Distúrbio de coagulação , principalmente a hipercoagulabilidade: “Nesse ponto piorou bastante com a epidemia do covid-19 porque o covid tanto aumentou o processo inflamatório como alterou bastante a coagulação do sangue. Então a gente viu pessoas jovens, às vezes atletas, sem fatores de riscos prévios nenhum, que simplesmente pela doença covid ou pela vacina tiveram infarto por conta da modificação inflamatória e do aumento da coagulação do sangue”, destacou.

- Uso de drogas retraiacionais : “nesse ponto a gente inclui a principal delas que é a cocaína que pode causar um vale espasmos tão importante e severo que pode causar o infarto”, pontuou.

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Coração

De acordo com o cardiologista Mauro Guimarães, tanto a infecção quanto a própria vacina contra a Covid-19 têm implicações no coração, no músculo e nas artérias coronarianas que aumentaram a incidência da ocorrência do infarto em pessoas mais jovens.

“Tanto pela oclusão da artéria em si, quanto o infarto que a gente chama de infarto tipo dois, é uma classificação quando a pessoa tem todos os sintomas, a dor torácica atípica, alterações das enzimas, alteração no eletro, mas a artéria não está obstruída [...]. Então também houve um aumento dessas patologias, ela simula o infarto e muitas delas são relacionadas a infecções virais, dentre elas o covid e também ocorreram de forma muito aumentada com a vacinação da covid”, explicou.

Outra questão que pode levar ao infarto é a falta de exercícios físicos e o consumo de cigarros, até mesmo os eletrônicos.

“Nos fatores de risco clássicos para a doença aterosclerótica também entra a hipertensão arterial e o sedentarismo. Um fator que hoje diminuiu bastante, mas que ainda é um dos principais fatores facilmente alteráveis, que é o tabagismo. E aí entra tanto o tabagismo tradicional, e as pessoas pensam que o tabagismo com esse cigarro eletrônico não influencia, mas ele também aumenta o risco de processos inflamatórios no organismo e consequentemente infarto”, disse.

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Artérias

COMO EVITAR

Para ter um coração mais saldável e evitar casos de infarto é importante mudar os hábitos, principalmente no que diz respeito a alimentação, evitar bebida alcoólica e praticar atividade física.

“Controle alimentar, reduzindo o consumo de alimentos industrializados. É você mais descascar do que você desembalar. É você usar alimentos saudáveis, frutas, verduras. A carne com pouco consumo de gorduras, pouco o açúcar industrializado, redução do consumo de bebida alcoólica, evitar o tabagismo, tentar realizar atividades físicas de uma forma mais frequente. Uma vez detectado algum fator de risco você deve acompanhar com um médico cardiologista e fazer o tratamento”, orientou o Guimarães.

TRATAMENTO

“Uma vez instalado a síndrome coronariana, o infarto, o tratamento é semelhante tanto para o jovem quanto para o idoso. É você ir para o pronto-socorro, lá você vai ser avaliado, o grau, se é realmente um infarto, através dos exames, da sintomatologia, da avaliação por um médico competente”, informou.

Segundo o especialista, após ser constatado o infarto, normalmente o paciente passará por um exame chamado cateterismo, que irá demonstrar se existe ou não oclusão, obstrução da artéria.

“Uma vez ela tendo essa oclusão em sino grave ela vai ser tratada com procedimento chamado angioplastia. E esse paciente vai ficar tomando o remédio, provavelmente para o resto da vida”, completou.

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