Empresário investigado por ligação ao PCC visitou a Câmara duas vezes em 2023
Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como Beto Louco, esteve duas vezes na Casa
O empresário Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Louco, investigado pela Polícia Federal por chefiar uma organização criminosa ligada ao PCC, esteve na Câmara dos Deputados em duas ocasiões no ano de 2023. As visitas constam em registros de portaria obtidos pelo UOL .
Nos documentos, Beto Louco declarou que se dirigia ao gabinete do deputado Domingos Neto (PSD-CE), em uma das datas, e ao partido Progressistas (PP), em outra. Procurado, Domingos Neto negou conhecer o empresário e disse nunca ter tido contato com ele. Já o líder do PP na Câmara, deputado Dr. Luizinho (RJ), também afirmou desconhecer Beto Louco e negou qualquer visita às dependências do partido.
A revelação ocorre em meio às investigações da PF na Operação Cassiopeia, deflagrada em março de 2023, que apontou um esquema de sonegação de impostos e adulteração de combustíveis. Empresas ligadas ao empresário são classificadas pelo fisco como "devedores contumazes", com dívidas bilionárias.
O caso ainda envolve políticos de destaque. O piloto Mauro Mattosinho relatou à Polícia Federal que Antônio Rueda, presidente do União Brasil, estaria entre os beneficiados em operações com Beto Louco. Ele também disse ter transportado, em agosto de 2024, uma sacola com dinheiro em espécie durante um voo para o empresário, com destino a um encontro marcado com o senador Ciro Nogueira (PP-PI). O parlamentar nega a reunião e qualquer recebimento de valores.
Uma semana após a última visita de Beto Louco à Câmara, em dezembro de 2023, Ciro Nogueira apresentou uma emenda a projeto que previa endurecer punições a devedores contumazes. A proposta buscava retirar artigos que criavam sanções específicas para empresas reincidentes em dívidas fiscais, mas ainda tramita no Senado.
O Senado, questionado pelo UOL, negou acesso aos registros completos das entradas do empresário, alegando proteção de dados pessoais. A decisão contraria entendimento da Controladoria-Geral da União, que considera essas informações de interesse público.