Entre mamadas, palpites e receitas salvas que nunca fiz
É bonito, é poético — mas é difícil
Eu nunca fui muito maternal. Apesar de desejar a maternidade desde sempre, nunca fui jeitosa com crianças. A primeira bebê que peguei nos braços foi a minha própria. E o mais louco: não senti medo. Continuei desajeitada, mas vestida de uma coragem que nasceu junto com minha filha.
Hoje, minha menina tem 10 anos. Tentando — mesmo sabendo que é impossível — falar dela com um olhar de fora, arrisco dizer: ela é incrível! Meiga, sensível, criativa, multi-talentosa. Muitas vezes me pego pensando no quanto é maravilhoso ser mãe dessa menina e poder guiá-la, com amor e tropeços, pelo caminho do amadurecimento.
Mas nem tudo são flores nesse caminho, óbvio! Já passamos da fase de romantizar a maternidade — não é mais preciso falar sobre isso. O que eu queria mesmo saber é se outras mães da minha geração também têm a sensação de que ser mãe na era digital parece mais desafiador do que em outros tempos.
E não falo dos perigos da internet para os filhos. Falo do perigo das redes para nós, mães. O perigo da cobrança, da comparação, das centenas (ou milhares!) de opiniões e certezas espalhadas por aí, que embaralham as nossas convicções. Nunca fui uma mãe estudiosa.
Nunca fui de ler livros sobre criação, alimentação, constelação, amamentação, birra e blá blá blá. O único que li, num momento de desespero, prometia me ensinar a fazer a Manuela dormir. Utopia, apenas.
Mas a internet estava lá, firme e forte, despejando uma tonelada de informação a cada mamada. E tinham as supermães. As que liam todos os livros, seguiam todos os perfis, faziam todos os BLWs. Algumas eu deixei de seguir. Outras, apenas silenciei — pra não ser indelicada.
Resolvi seguir meu instinto. O mesmo que nasceu em mim naquele domingo em que a Manu chegou. O mesmo instinto com o qual minha mãe, na era pré-digital, me criou, educou e amou.
É claro que aprender é válido. Que os tempos mudam e a gente evolui. Mas nenhuma enciclopédia é mais poderosa do que olhar para o passado, estar presente no agora e vislumbrar o que virá — tudo isso com minha mãe bem pertinho.
Minha mãe é amor em movimento. Como o vento que entra pela brecha da porta e faz assobiar suave. Está em todos os lugares e ocupa todos os espaços. É afeto e suporte. É ela que me inspira a inspirar minha filha. A ensinar a se encantar com o simples, se emocionar com histórias, encontrar força em si e no outro.
É bonito, é poético — mas é difícil.
Com mais de seis décadas de estrada e as filhas já criadas, minha mãe segue na labuta. Eu olho pra ela e penso: “Será que eu dou conta?”. Eu nem sei cozinhar!
Ok, cozinhar não é pré-requisito pra uma maternidade plena. Minha mãe mesma aprendeu de verdade na pandemia. Mas tem tanto amor nos almoços de domingo... E eu, que só salvo vídeos de receitas que nunca faço, já me pego pensando em como serão os domingos na minha casa daqui a vinte anos.
Espero que não precise outra pandemia nem dotes culinários pra reunir minha família em volta de uma mesa cheia de afeto. Que o amor baste. Que o instinto me guie. E que, no fim das contas, minha filha também sinta orgulho de andar de mãos dadas comigo por esse caminho — torto, doce, difícil e lindo — de ser mãe e ser filha.