O preço do não
Então, se puder, diga sim. Diga sim para os seus
Muito se tem falado sobre a importância de saber dizer não. De como é libertador escolher estar apenas onde se deseja, fazer só o que convém, viver em função da própria vontade. Felicidade, liberdade, empoderamento — tudo isso parece estar ao alcance de quem aprende a dizer “não”.
E, de fato, há algo de poderoso nesse movimento. Mas, como tudo na vida, ele também tem um preço. E nem sempre é barato.
Vivemos tempos em que coaches se promovem vendendo suas próprias histórias, prometendo prosperidade e leveza por apenas R$197. Alguns cobram mais. Muitos pagam. E compram, junto com o curso, a ilusão de que basta escolher o que se quer e rejeitar todo o resto para ser feliz.
Eu, por exemplo, venho aprendendo a dizer "não" — sem a ajuda de nenhum coach. Tem sido no tranco, no tropeço, no silêncio. E, ainda assim, vejo que, muitas vezes, é necessário dizer "sim", mesmo quando o corpo e a mente pedem o contrário.
Porque, no fim das contas, você não é uma ilha. E nem é grande o suficiente para se considerar um continente.
A sua liberdade, aos olhos de alguém que esperava por você, pode soar como egoísmo. E, por mais baixa que seja a sua “bateria social”, lá no fundo todos sabemos: não nascemos para viver sozinhos.
A ideia de que a felicidade é um caminho exclusivamente individual pode ser uma armadilha. Uma armadilha elegante, com frases de efeito e vídeos bem editados, mas ainda assim, uma armadilha. Nessa busca por autonomia plena, muitas vezes o que se revela é só uma defesa mal disfarçada contra a vulnerabilidade dos vínculos. É mais fácil parecer resolvido do que se comprometer com a instabilidade real das relações humanas.
Bater no peito e dizer “eu me basto”, “só faço o que quero”, “não preciso de ninguém para ser feliz” pode transformar o tal empoderamento em uma solidão barulhenta.
O amor próprio virou a grande meta de todo mundo — como se fosse sinônimo de alegria constante. Mas a verdade é que o amor com o qual me amo é diretamente influenciado pelo amor com o qual me sinto amado. A alegria precisa de compartilhamento. E é no compartilhar que, muitas vezes, ela nasce.
Viver isso, na prática, significa também dizer “sim” quando a vontade era dizer “não”. As relações exigem presença, entrega, disponibilidade.
Nas redes sociais, virou tendência falar em “amizades de baixa manutenção”. Respeito quem acredita, mas confesso: não compartilho da ideia. No mundo da pressa, dos vídeos curtos, dos áudios acelerados, tudo parece descartável. E essa tal “baixa manutenção” tem servido, muitas vezes, como desculpa para a falta de interesse.
Então, se puder, diga sim. Diga sim para os seus. Diga sim para quem você ama. Vá à cafeteria, mesmo que não tome café. Vá ao cinema, mesmo que não goste do protagonista. Vá. Esteja. Faça — se não for assim tão incômodo. Pode ser transformador.