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Com três acidentes aéreos em 2023; Piauí registra pior ano para voar em uma década

Dados do Cenipa mostram que em 2023 foram registrados três acidentes aéreos no Estado

O ano passado não foi um dos melhores para aeronaves de pequeno porte que sobrevoava o Piauí. Dados do Cenipa, que é o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, mostram que em 2023 foram registrados três acidentes aéreos no Estado. Pior, todos aconteceram em um curto espaço de uma semana.

O número é o maior dos últimos dez anos e o triplo do registrado em 2022, quando apenas uma ocorrência foi verificada. Os acidentes aéreos piauienses ocorrem todos na região da Grande Teresina. Não foram registradas vítimas fatais, graças a perícia dos pilotos nas quedas. Algumas pessoas ficam feridas.

As aeronaves envolvidas nos acidentes eram todas de pequeno porte. Todas de bimotores. Porém, as ocorrências chamaram a atenção do Cenipa pelo fato de terem ficado atrás somente dos ocorridos no Maranhão, entre os estados nordestinos. Por lá, no vizinho Estado, o órgão de controle e fiscalização do espaço aéreo brasileiro computou sete acidentes.

Foto: Conecta Piauí
Com três acidentes aéreos em 2023; Piauí registra pior ano para voar em uma década

De acordo com o Cenipa, os três principais fatores que contribuíram para os desastres aéreos no Piauí, na última década, foram a perda de controle em voo, a colisão com obstáculo durante a decolagem ou pouso e falhas no motor. Nos três acidentes específicos de 2023, o órgão identificou pane nos motores; em dois deles, e problema com o fechamento da porta no terceiro.

Foto: Reprodução
Com três acidentes aéreos em 2023; Piauí registra pior ano para voar em uma década

O mais grave e que chamou mais atenção, pelo número de ocupantes e pela perícia do piloto, na queda, ocorreu no dia 12 de junho, quando uma aeronave, com cinco pessoas, sendo três mulheres, um homem e uma criança, fez um pouco forçado em campo de futebol, na Vila Operária, Zona Norte de Teresina.

O campo fica a menos de 1 km do aeroporto da capital e o avião tinha acabado de decolar. Apesar do forte impacto no solo, que chamou a atenção dos moradores da região, chegando a tremer o chão em algumas ruas próximas, não teve vítima fatal. Todos os ocupantes do voo foram socorridos e levados a hospitais.

Foto: Eduardo Amorim / Conecta Piauí
Com três acidentes aéreos em 2023; Piauí registra pior ano para voar em uma década

Na época foi divulgado um áudio do piloto. “O motor falhou. Eu mudei de tanque, rápido, continuou falhando, voltei para o outro motor, aí pronto, parou. Tentei reanimar ainda, não deu. Quando eu olhei pra baixo, era só casa. Quando eu olhei a minha direita, eu vi a lagoa. Eu disse ‘é bem ali assim’. Eu dei uma puxadinha rápida, puxei o manche rápido, ganhei um pouco mais de atitude. Aí atroei a lagoa, limpei o avião e a velocidade já vinha caindo, preparei o avião para o impacto”, dizia o áudio.

Em nota, o Aeroporto de Teresina informa que o avião que vinha de Redenção, no Pará, com destino a Teresina, Piauí, entrou em contato com a torre de controle declarando situação de socorro, mas não conseguiu pousar no aeroporto. O centro de operações aeroportuárias da CCR Aeroportos logo acionou o seu plano de emergência, direcionou membros da equipe para o local do ocorrido e acionou o Corpo de Bombeiro estadual e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), relatando o ocorrido.

O ano mais trágico para o Piauí foi 2014. Conforme os dados do Cenipa, naquele ano foram registrados 5 acidentes, dois incidentes graves e três pessoas mortas. Já em relação a incidentes, foram registrados 49 na última década, uma média de um a cada dois meses. Maioria teve como causa colisão com aves. Nesses 10 anos, foram ao todo 15 acidentes no Piauí.

Foto: Reprodução
Com três acidentes aéreos em 2023; Piauí registra pior ano para voar em uma década

No Brasil, foram 155 casos em 2023, um número 13% mais alto do que o de 2022 — o equivalente, em média, a um acidente aéreo a cada período de pouco mais de dois dias. A taxa de fatalidades também subiu, passando de 49 para 72 mortes. A região Centro-Oeste foi a que teve maior números de acidentes em 2023, com 44 casos (28%).

Em seguida, estão o Sudeste (24%), o Sul (21%), o Norte (17%) e o Nordeste (10%). Na divisão por estados, os desastres foram mais numerosos no Mato Grosso, em São Paulo, no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e no Mato Grosso do Sul.

Gestor de Crises e Investigador de Acidentes Aeronáuticos, Maurício Pontes ressalva que qualquer tendência comum ou nexo causal nos casos recentes — que chamaram atenção pelo curto espaço de tempo entre eles — só pode ser feito a partir do término de cada investigação pelo Cenipa.

O investigador aponta que um acidente aeronáutico não se dá por um só motivo, mas por uma série de variáveis, que podem ir de problemas com o mais simples componente do aparelho a fatores psicológicos. "Não é possível dizer que há uma epidemia de acidentes aéreos. Sob um olhar ainda dependente de cada conclusão investigativa, os mais recentes não nos permitem apontar um nexo de causalidade entre eles", argumenta Pontes.

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