IBGE divulga PIB municipal de 2023 e piauienses aparecem divididos
A capital, Teresina, ocupa um lugar intermediário nesse cenário desigualOs dados mais recentes do IBGE, referentes a 2023, escancaram uma contradição econômica que ajuda a entender o Brasil profundo, e, em especial, o Piauí. Dentro das fronteiras de um mesmo estado convivem realidades opostas: municípios com economias microscópicas, quedas abruptas de produção e baixa capacidade de geração de renda, ao lado de outros que figuram entre os mais ricos do país quando o indicador é PIB per capita.
O caso mais emblemático é o de Curral Novo do Piauí. Em apenas um ano, o município viu seu Produto Interno Bruto despencar 73,4%, caindo de R$ 370,8 milhões, em 2022, para R$ 98,6 milhões em 2023. Foi a maior queda do PIB municipal em todo o Brasil no período. Nenhum outro município brasileiro encolheu tanto sua economia em termos proporcionais.
Curral Novo não está sozinho nesse movimento. Outros municípios piauienses aparecem entre os que mais perderam atividade econômica no país, como Betânia do Piauí, com retração de 48,24% (a 9ª maior queda nacional), e Queimada Nova, com redução de 26,38%. Ao todo, 15 municípios do Piauí registraram queda nominal do PIB em 2023, um dado que aponta fragilidades estruturais, dependência excessiva de poucas atividades econômicas e forte vulnerabilidade a choques externos.
Na outra ponta da escala está um dado ainda mais simbólico: Santo Antônio dos Milagres registrou, em 2023, o menor PIB entre todos os 5.570 municípios brasileiros, com apenas R$ 25,3 milhões. Não é um caso isolado. Entre os 50 municípios com os menores PIBs do Brasil, 14 são piauienses, evidenciando como a pobreza econômica segue concentrada em determinados territórios do estado.
Mas o Piauí também aparece em rankings que contam outra história. Municípios ligados ao agronegócio e à produção de commodities agrícolas figuram entre os mais ricos do país quando o critério é renda gerada por habitante. Baixa Grande do Ribeiro, por exemplo, alcançou um PIB per capita de R$ 200,2 mil, o maior do estado e o 55º maior do Brasil. O valor é 3,7 vezes superior à média nacional e 8,1 vezes maior que a média estadual.
Outros dois municípios piauienses reforçam esse contraste: Uruçuí, com PIB per capita de R$ 167,7 mil, e Sebastião Leal, com R$ 163 mil, ambos entre os 100 maiores do país. São números que revelam economias altamente produtivas, mas também concentradas, que nem sempre se traduzem em desenvolvimento social amplo.
A capital, Teresina, ocupa um lugar intermediário nesse cenário desigual. Com PIB per capita de R$ 33.994, o valor é quase 1,4 vez maior que a média do estado, mas ainda assim coloca a cidade como a terceira capital com menor PIB per capita do Brasil, à frente apenas de Salvador e Belém.
Os dados divulgados pelo IBGE mostram ainda que a concentração econômica segue elevada. Apenas 10 municípios piauienses concentraram 60,48% de todo o PIB estadual em 2023, o equivalente a R$ 48,9 bilhões. Embora essa concentração tenha diminuído em relação a 2002, quando chegava a 65,29%, a maior parte dos 224 municípios do estado ainda divide menos de 40% da riqueza produzida.
O retrato que emerge é claro: o Piauí avançou, diversificou sua economia e criou polos de alta produtividade, mas segue convivendo com desigualdades profundas entre seus municípios. O desafio não é apenas crescer, mas fazer com que o crescimento chegue a mais lugares, reduzindo distâncias históricas que os números, frios e objetivos, insistem em revelar.