Quem é o príncipe africano na obra que deve ser vendida por quase R$ 100 milhões

Por décadas, o paradeiro do retrato permaneceu um mistério, alimentando especulações e lendas

O mundo da arte está em alvoroço com a redescoberta do retrato do príncipe da África Ocidental, William Nii Nortey Dowuona, pintado pelo renomado artista austríaco Gustav Klimt em 1897. A obra, que se acreditava perdida desde 1938, ressurgiu e agora se prepara para um leilão que promete agitar o mercado da arte, com um valor estimado de 15 milhões de euros (aproximadamente R$ 92 milhões).

Uma pintura cheia mistério

A trajetória dessa pintura é tão fascinante quanto a própria obra. Por décadas, o paradeiro do retrato permaneceu um mistério, alimentando especulações e lendas no meio artístico. A reviravolta aconteceu quando um casal de colecionadores levou a tela à galeria vienense Wienerroither & Kohlbacher, especializada em Klimt há 25 anos.

"Foi uma surpresa enorme para nós", revelou em entrevista, Alois Wienerroither, diretor da galeria. "A pintura estava suja, com uma moldura deteriorada, e não parecia um Klimt à primeira vista." Após uma meticulosa limpeza, a verdadeira identidade da obra foi revelada: o retrato de um príncipe da África Ocidental, de uma região que hoje faz parte de Gana.

Foto: Reprodução/Galeria Wienerroither & Kohlbacher
Retrato do príncipe da África Ocidental, William Nii Nortey Dowuona
Retrato do príncipe da África Ocidental, William Nii Nortey Dowuona

Klimt e a Vanguarda Vienense

Gustav Klimt, um dos maiores nomes da arte austríaca do final do século XIX, buscou romper com o estilo e inaugurar uma nova estética. Durante esse período de efervescência artística, Klimt pintou o retrato do príncipe africano, em um estilo realista que contrasta com suas obras mais conhecidas, como "O Beijo" e "Dama Dourada".

As exposições etnológicas, o príncipe africano e o racismo

A história por trás do encontro entre Klimt e o príncipe William Nii Nortey Dowuona é igualmente intrigante. Em 1897, o zoológico do Prater, em Viena, promoveu uma "exposição etnológica", um tipo de evento comum na época, mas hoje considerado racista e desumano. Nesses eventos, pessoas de diferentes culturas eram exibidas como animais, para o entretenimento do público.

William Nii Nortey Dowuona, sobrinho do rei Osu, foi enviado a Viena como líder de um grupo de sua etnia para participar da exposição. Foi nesse contexto que Klimt o retratou, assim como seu colega Franz Matsch.

A odisseia da pintura

Após a morte de Klimt, em 1918, a pintura passou por diversas mãos, até desaparecer em 1938, quando a Áustria foi anexada pela Alemanha nazista. Acredita-se que a obra tenha sido confiscada ou roubada durante esse período.

Reedescorberta, a pintura do príncipe africano William Nii Nortey Dowuona agora sendo leiloada por 15 milhões de euros na feira de arte Tefaf, em Maastricht, Holanda.

O reaparecimento da pintura é um marco para a história da arte, e sua venda promete ser um evento de grande repercussão. A história do príncipe negro e sua conexão com Klimt serão tema de um documentário, que promete revelar ainda mais detalhes sobre essa fascinante história.

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