Professora da UFPI lança coletânea de poesias escritas durante pandemia
Autora também insere em seus textos reflexões sobre gênero, política e resistênciaA obra “Ventos que sopram aquelas noites” de Socorro Borges, é uma poderosa jornada poética que entrelaça resistência, memória e introspecção. Publicada pela Editora Litteralux em 2024, a coletânea dialoga profundamente com as experiências de isolamento e as transformações trazidas pela pandemia da Covid-19, revelando os abismos internos e sociais expostos nesse período.
Com uma escrita minimalista e marcada pela forma poetrix – tercetos densos em significado e sutileza –, Borges constrói um universo onde cada verso se torna um ato de sobrevivência e reinvenção. A obra se destaca ao traduzir em poesia a luta cotidiana contra as "pequenas mortes", dando voz às inquietações e desafios do nosso tempo.
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Os temas são organizados em treze seções, cada uma dedicada a um "vento" específico, simbolizando nuances da existência: desde as solidões e os silêncios, passando por máscaras e memórias femininas, até os enigmas do sol e da lua. A poesia emerge como espaço de libertação e transformação, explorando afetos, corpos, ancestralidades e espiritualidades. Borges transita entre o íntimo e o coletivo, revelando as diversas facetas da experiência humana com a mesma intensidade com que observa o mundo exterior e o universo interior.
A autora, também historiadora e ativista, insere em seus textos reflexões sobre gênero, política e resistência, fazendo da palavra um instrumento de confronto e reconstrução. A estética do devir – inspirada nas leituras filosóficas de Gilles Deleuze – permeia a obra, que busca captar momentos fugazes, em constante movimento, como se cada poema fosse um sopro capaz de ressignificar a vida.
Nas palavras de Borges, "a poesia é um respiro para além das portas trancadas", um caminho para atravessar desertos pessoais e coletivos. Assim, cada poetrix funciona como uma cápsula de reflexão, convidando o leitor a desacelerar e habitar o silêncio necessário para a fruição poética. A autora não apenas reflete sobre o passado, mas também aponta para futuros possíveis, celebrando a capacidade humana de reinventar-se.
Com uma escrita visceral e delicada, Ventos que sopram aquelas noites é mais do que uma coletânea de poemas – é um manifesto de resistência e esperança em tempos de incerteza. Uma leitura essencial para quem busca se reconectar com a potência transformadora da poesia e encontrar, nas entrelinhas, um novo fôlego para o viver.