Conecta Brasília

Ciro Nogueira na teia do Master: como política e negócios se cruzaram no BRB

Negociações para o BRB comprar o Master envolveram articulação política e tentativas de influência

A operação que discutia a compra do Banco Master pelo Banco Regional de Brasília (BRB) revela uma complexa rede de articulações políticas, interesses empresariais e tentativas de influência sobre a estrutura acionária de uma instituição financeira pública. Documentos, apurações e relatos de bastidores mostram que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) teve papel central no lobby que colocou à mesa figuras do governo do Distrito Federal e representantes do banco privado comandado por Daniel Vorcaro, que, desde terça-feira (18/11), está impedido de exercer funções no sistema financeiro após a liquidação extrajudicial do Master decretada pelo Banco Central. As informações são do ICL Notícias .

O ponto que mais chamou atenção de técnicos do Banco Central foi o desenho acionário que surgiria após a suposta aquisição: o Master ficaria com 36% das ações do próprio BRB, seu comprador, abrindo caminho para que, em um futuro próximo, o banco fragilizado financeiramente pudesse assumir o controle da instituição pública. A proposta incluía ainda dar um assento no Conselho do BRB a Daniel Vorcaro, movimento articulado com o conhecimento do governador Ibaneis Rocha (MDB) e da vice-governadora Celina Leão (PP), segundo relatos obtidos nos bastidores das negociações, que ocorreram entre fevereiro e março deste ano.

A economista e apresentadora Deborah Magagna, do ICL, detalhou essa rede de relações que envolve executivos do Master, políticos do PP e figuras do governo do Distrito Federal. Em sua análise, ela aponta que Daniel Vorcaro, preso e alvo de investigações, mantém ligações com Ciro Nogueira e Antônio Rueda, ambos citados em apurações anteriores. A teia se expande com Augusto Lima, sócio do Master, casado com a ex-ministra Flávia Peres (Flávia Ruda), que tem vínculos diretos com o governador Ibaneis Rocha, controlador político do BRB.

Outro elo citado é Nathalia Vorcaro, irmã de Daniel, casada com o advogado e pastor Fabiano Zettel, dono do fundo Moriá. Zettel foi, em 2022, o maior financiador individual da campanha presidencial de Jair Bolsonaro, ampliando as conexões entre o grupo ligado ao Master e atores relevantes da política nacional. Para Magagna, ao “puxar os fios”, as relações se multiplicam e alcançam nomes investigados em diferentes operações, incluindo a Compliance Zero, que resultou na liquidação do Master.

Em paralelo às negociações, Vorcaro vislumbrava a criação de uma estrutura paralela ao BRB oficial: o “BRB Participações”, que seria presidido por ele e funcionaria como um banco à parte, destinado a captar recursos para investimentos em empresas privadas, inclusive aquelas ligadas ao Master e acumuladoras de prejuízos. A iniciativa, segundo as investigações, também tinha ciência e anuência do governador Ibaneis Rocha e de sua vice, Celina Leão.

O caso complexo expõe como relações políticas e interesses empresariais se entrelaçaram na tentativa de alterar profundamente a governança e o controle de um banco público. As revelações sobre o Master e os movimentos articulados por Daniel Vorcaro adicionam mais um capítulo às investigações que miram políticos influentes, empresários e figuras do alto escalão do Distrito Federal e do cenário nacional.

VEJA O VÍDEO:

Leia também