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Apostas online geram impacto de R$ 38,8 bilhões por ano no Brasil e muitas perdas

Levantamento aponta perdas sociais e econômicas com depressão, suicídios, dívidas e desemprego

Um estudo inédito divulgado nesta terça-feira (2/12) estima que as apostas online e os jogos de azar provocam um impacto anual de R$ 38,8 bilhões ao país, considerando gastos de saúde, desemprego, perdas de moradia, afastamento do trabalho e mortes relacionadas ao vício. A pesquisa, intitulada A saúde dos brasileiros em jogo, foi elaborada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), pela Umane e pela Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental.

Os pesquisadores apontam que o Brasil registrou 17,7 milhões de apostadores em apenas seis meses, e que cerca de 12,8 milhões apresentam risco significativo de desenvolver problemas relacionados ao jogo. Com base em um modelo britânico, o estudo calculou que as perdas envolvem R$ 17 bilhões por mortes por suicídio, R$ 10,4 bilhões em redução da qualidade de vida por depressão, R$ 3 bilhões gastos em tratamentos médicos, R$ 2,1 bilhões com seguro-desemprego, R$ 4,7 bilhões com encarceramento e R$ 1,3 bilhão em situações de perda de moradia. Quase 79% desses custos estão ligados diretamente à saúde.

O levantamento afirma que a expansão acelerada das bets, impulsionada pela tecnologia, pela ampla exposição midiática e pela falta de regulação robusta, já afeta o endividamento das famílias e agrava quadros de sofrimento mental. Apesar do volume financeiro movimentado — R$ 240 bilhões somente em 2024 —, a arrecadação federal segue baixa. Até setembro, o setor tinha contribuído com R$ 6,8 bilhões em impostos, número que passou a cerca de R$ 8 bilhões em outubro, ainda longe dos custos sociais estimados.

A pesquisa destaca que apenas 1% de toda a arrecadação das apostas chega ao Ministério da Saúde, o equivalente a R$ 33 milhões até agosto, sem destinação específica para a Rede de Atenção Psicossocial do SUS. O contraste entre o retorno financeiro e o impacto social é classificado como “uma conta que não fecha”.

O estudo também aponta que o setor gera pouco emprego e renda. Dados do Ministério do Trabalho mostram que apenas 1.144 postos formais foram registrados, e que, de cada R$ 291 arrecadados pelas empresas, apenas R$ 1 vira salário. Além disso, 84% dos trabalhadores do setor não contribuíram para a previdência em 2024.

Como referência, o levantamento cita práticas adotadas no Reino Unido, como autoexclusão dos usuários, restrições rígidas à publicidade e destinação de parte dos impostos para tratamento de dependentes. Para o Brasil, recomenda aumento da taxação destinada à saúde, campanhas de conscientização, capacitação de profissionais do SUS, restrições de acesso para grupos vulneráveis e regras mais rígidas para as empresas.

A diretora de Relações Institucionais do Ieps, Rebeca Freitas, afirma que o setor cresce sem controle enquanto a população fica exposta a riscos cada vez maiores. Segundo ela, sem regulação firme e fiscalização constante, o cenário tende a se agravar.

O estudo também cita que as bets foram tema de uma CPI no Senado, que investigou impactos financeiros, possíveis ligações com o crime organizado e a atuação de influenciadores. A comissão, porém, rejeitou o relatório final, que pedia indiciamento de 16 pessoas.

Empresas do setor, representadas pelo Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), contestam aumentos de tributação e afirmam que impostos mais altos podem estimular a migração para o mercado clandestino, que já representaria mais da metade das apostas virtuais no país.

Acesse aqui para ver a íntegra da pesquisa!

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