Entre ruídos, telas e desigualdades algorítmicas, ainda há algo que resiste
Levantamentos mostram que checagem e rigor ainda sustentam a credibilidade no país
Em meio ao vendaval permanente das redes sociais, essa praça pública global em que todos falam ao mesmo tempo, e quase ninguém escuta, uma constatação atravessa o barulho e repousa sobre a mesa do mercado: credibilidade, essa palavra tão curta, continua tendo dono. E esse dono, apesar de todas as revoluções tecnológicas, ainda é a mídia profissional. E todas as pesquisas recentes apontam para a mesma resposta.
Mesmo com o domínio das redes como principal fonte de acesso à informação, é o jornalismo profissional que ainda sustenta, e alimenta, a credibilidade no país. Levantamento publicado pelo Valor Econômico, conduzido pela Ponto Map e V-Tracker, revela que rádio, TV fechada e mídia impressa são os meios mais confiáveis para os brasileiros. O rádio, por exemplo, alcança 81% de credibilidade; a TV fechada, 75%; a imprensa, 68%.
A TV aberta mantém um equilíbrio raro entre alcance e confiança. Já as redes sociais, embora liderem o acesso, patinam com apenas 41% de confiança, uma contradição emblemática do nosso tempo. Num mundo em que todos falam ao mesmo tempo e quase ninguém escuta, a era das redes sociais criou a sensação de que a informação se democratizou. É verdade: qualquer pessoa com um celular na mão pode ser testemunha de um fato, transmissora de uma opinião, autora de uma “notícia”.
No Brasil, são de três a dez milhões de influenciadores disputando espaço com menos de cem mil jornalistas profissionais. Mas, quando o ruído é grande demais, a pergunta que se impõe é simples como um sussurro: em quem confiar? É por isso que, para as marcas, a visibilidade conquistada nos veículos tradicionais segue tendo mais peso que qualquer viral momentâneo.
As jornalistas Renata Benevides e Karla Rodrigues, da Capuchino Press, conhecem bem essa dinâmica. Atendendo empresas de mais de 20 segmentos, afirmam que o avanço das plataformas digitais só reforçou o valor da imprensa profissional. A constatação é clara: quando o assunto é reputação, o mercado sabe onde está a credibilidade. E ela não vem de likes; vem de checagem, método e responsabilidade.
O próprio ministro das Comunicações, Juscelino Filho, resumiu o fenômeno ao comentar a mesma pesquisa: em tempos de desinformação abundante, os brasileiros reconhecem quem entrega informação confiável, verificada, transmitida com rigor. O jornalismo pode não ser mais o único emissor de notícias, e talvez nunca mais volte a ser, mas se torna cada vez mais o filtro necessário para separar verdade de invenção, fato de interesse comercial, notícia de ruído.
A avalanche de conteúdos amadores trouxe desafios éticos e profissionais, da monetização desenfreada à dificuldade de distinguir quem está a serviço do interesse público e quem está apenas vendendo alguma coisa. Nesse cenário, o jornalismo assume um novo papel: o de tutor. Não para controlar, mas para orientar. Não para diminuir o cidadão que grava e publica, mas para garantir que a sociedade não se perca na própria cacofonia.
E assim, apesar das revoluções digitais, das tendências que duram poucas horas e da velocidade que ultrapassa a respiração, uma verdade persiste: a credibilidade continua morando onde sempre morou. Na seriedade das redações, na assinatura de quem apura, no compromisso de quem erra menos porque checa mais. As redes sociais podem até dominar a conversa, mas é o jornalismo profissional que continua ditando o tom. Para o público, para as marcas e para a democracia.