Quase 13,3 mil armas irregulares no PI: o arsenal invisível que desafia o estado
O levantamento reúne informações acumuladas ao longo de 60 anos
No Piauí, um número silencioso e perigoso cresce longe dos holofotes: quase 13,3 mil armas de civis estão hoje em situação irregular, com registros vencidos. O dado, revelado pela Polícia Federal em seu novo portal de transparência, expõe um cenário que mistura descuido, burocracia lenta e risco real para a segurança pública.
O levantamento reúne informações acumuladas ao longo de 60 anos. Nesse período, o estado registrou 25.012 portes de armas concedidos a civis. Mais da metade (53,11%), já perdeu validade. Um arsenal inteiro que circula sem controle atualizado, sem que o poder público saiba exatamente onde está, em que mãos está ou em que condições está sendo usado.
O número é ainda mais preocupante quando lembramos que ele não inclui armas dos CACs, colecionadores, atiradores e caçadores, cujo controle é responsabilidade do Exército. Ou seja, o contingente real de armas fora da fiscalização pode ser ainda maior.
Para renovar o registro, a regra é clara: o proprietário precisa comprovar trabalho e residência fixa, apresentar laudos de capacidade técnica e não ter antecedentes criminais. Mas quando o prazo expira, a realidade complica. A Polícia Federal notifica o dono, que tem 60 dias para regularizar a situação, transferir a arma ou entregá-la voluntariamente. Se ignorar o aviso, começa um processo administrativo que pode terminar na cassação do registro, e, só então, na apreensão do armamento.
A mudança na legislação, que deixou de tratar o não renovação como crime, engessou o trabalho dos agentes. Antes, era possível abrir um inquérito e pedir mandado judicial. Agora, só depois de concluída toda a etapa administrativa é que se pode agir. Na prática, meses de espera. Meses em que uma arma irregular continua em circulação.
Enquanto isso, o aparato estatal tenta reagir. Nesta semana, a Secretaria de Segurança Pública, em parceria com o Exército, destruiu mais de 1,5 mil armas apreendidas em operações, um gesto simbólico e necessário, mas que não diminui o desafio maior: rastrear e controlar o que ainda está do lado de fora.
O que o novo levantamento da PF mostra é simples e grave: o Piauí convive com um estoque crescente de armas vencidas, espalhadas por casas, propriedades rurais e comércios, sem garantia de quem as possui tem condições legais ou psicológicas de mantê-las. Um problema que não aparece nas estatísticas de criminalidade, mas que alimenta, silenciosamente, os riscos de acidentes, conflitos familiares e desvios para o mercado ilegal.