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Moleque diferente que 'inaugurou' ponte famosa em Teresina completa 80 anos

Primo do 'Anjo Torto' do Tropicalismo revela histórias inéditas do jovem poeta
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Um garoto espoleta, que no dito popular significa aprontador, danado mesmo! Opa, essa última palavra não é bem vista hoje em dia. Vamos defini-lo, então, como um moleque abençoado, capaz de passar à frente de autoridades e atravessar uma ponte correndo, momentos antes dela ser inaugurada; comer remédio de sal de frutas como se fosse biscoito; riscar as iniciais do nome em cimento fresco nas ruas e muros e, por fim, “torturar” insetos. 

Tudo normal, né? Nada diferente do que outras crianças ou adolescentes fazem cotidianamente, ou até coisas piores. Porém, as peripécias acima apontadas aconteceram nos anos de 1950, em uma Teresina que começa a surgir par ao mundo, tendo como protagonista aquele mais tarde se tornaria a referência para centenas de outros artísticas. Um revolucionário, integrante criador de um movimentado que mudou a cultura pop do país: Tropicalismo.

Foto: ReproduçãoTorquato Neto
Torquato Neto

Nosso personagem foi batizado como Torquato Pereira de Araújo, Neto (assim, com a vírgula). Um verdadeiro filho da contradição: o pai, renomado espírita kardecista e promotor de Justiça, e a mãe católica, beata das igrejas e das orações e professora primária. Nasceu em Teresina, numa família de classe média bem estruturada, não teve irmãos e pode desfrutar de todos os privilégios possíveis de uma vida tranquila. 

Estamos falando simplesmente de Torquato Neto, um dos piauienses mais cortejados e conhecidos Brasil afora, senão o maior, que neste sábado, dia nove de novembro, estaria completando 80 anos se vivo fosse. O Anjo Torto, como passou a ser conhecido, era poeta, compositor, ator e jornalista. Teve uma trajetória breve, marcada por crises existenciais, tendo vivido uma vida poética, sem distanciar o cotidiano do sonho.

Porém, tudo isso, o mundo inteiro conhece. Todos sabem quem foi o artista Torquato Neto. Sabe de sua obra, que, inclusive, foi oficialmente reconhecida como uma manifestação da cultura nacional, de acordo com Lei sancionada pelo presidente Lula, ano passado. No entanto, poucos sabem detalhes da juventude do piauiense famoso, conforme os detalhes contatos no primeiro parágrafo desse texto. 

E todas essas memórias do jovem Torquato, e outras mais, estão relatadas em um texto inédito escrito pelo, também, jornalista, professor e escritor Paulo José Cunha, primo do Anjo Torto e coadjuvante ou observador participativo e suas peripécias juvenis. O texto nunca foi publicado em lugar algum e revela, ainda, a paixão de Torquato era amante do futebol (torcedor do Botafogo), apesar de afirmar que natação era seu esporte preferido, e de vez por outra fumar um baseado. 

“Torquato gostava de ir pra casa de nossa avó Sazinha. Era louco por ela. Depois de beijá-la e ouvir com atenção suas histórias do passado, ia sozinho para o fundo quintal, cheio de frutíferas. Dizia pra vovó que gostava muito de goiaba tirada do pé. E de ficar só, pra ter umas ideias. Demorava-se um bom tempo por lá. Quando voltava do quintal vinha mareado, olhos vermelhos, pedindo água e uma cadeira pra descansar. Pudera: as goiabas eram puro pretexto pra queimar um mato. Vovó, ingênua de tudo, observava: - Já lhe disse, Torquato, mas você não me ouve, menino! Não fique tanto tempo nesse sol quente! Isso faz muito mal!”, relatou PJ.

Foto: ReproduçãoTorquato Neto
Torquato Neto

Ainda sobre esse assunto, Paulo Cunha detalhou como, certa vez, o primo lhe fez de “mula”, nomenclatura data para quem atravessa um local levando entorpecentes escondido, sem ele saber de nada. “De uma outra feita, o personagem fui eu. E por muito pouco não fui   “vítima” do poeta. Estávamos os dois em Teresina, e ele viajou antes de mim, de volta para o Rio de Janeiro. Eu iria retornar mais adiante a Brasília, onde morava, mas tinha prometido encontrá-lo uns 15 dias depois, no Rio. Torquato viajou. E um dia me telefonou pedindo pra pegar numa estante da casa de tia Saló um pacote que ele havia esquecido de por na bagagem e o levasse para Brasília. “Me entrega quando vier pro Rio. É coisa leve, dá até pra trazer na mão, Paulo José”. Fiz tudo direitinho. Levei mesmo o pacote na mão, numa sacolinha. Quando entreguei a ele, ficou exultante. Ao abri-lo, na minha frente, adivinha o que tinha dentro? "

O texto é um verdadeiro presente de aniversário, por meio de lembranças de uma adolescente travesso, que adorava viver, bem diferente da imagem sisuda e depressiva que muitos têm de Torquato. Para ler a íntegra das peripécias do jovem Anjo Torto basta clicar aqui. Ah, só pra terminar e matar a curiosidade que ficou do primeiro parágrafo, a ponte que Torquato atravessou correndo e “inaugurou” antes das autoridades foi a Juscelino Kubitscheck, famosa ponte JK, principal ponte que liga o centro a zona leste da cidade e que foi inaugurada em 1959, ou seja, ele tinha apenas 15 anos.

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