Piauí aperta o cerco e mostra que crime ambiental tem endereço certo
Fiscalização rigorosa reduz desmatamento e expõe invasões no sul do PiauíO Piauí está mandando um recado claro e, desta vez, em voz alta, para quem insiste em transformar a floresta em pasto ou carvão: o tempo da impunidade acabou. A mais nova operação da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), no extremo sul do estado, é o retrato fiel de um governo que decidiu enfrentar o desmatamento com rigor, método e presença real onde a lei costuma chegar por último: no meio da mata, longe do asfalto, na beira dos rios.
A ação começou como tantas outras na região: com uma denúncia anônima, quase sempre o grito solitário de quem vê a floresta cair e não tem a quem recorrer. Desta vez, o alerta apontava para as margens do Rio Uruçuí Preto. A partir das coordenadas enviadas, a equipe técnica fez o que o crime ambiental teme: levantou imagens de satélite, cruzou dados, identificou duas áreas abertas irregularmente e seguiu viagem. A cerca de 150 km a partir de Bom Jesus rumo a um ponto remoto do cerrado onde, em geral, só chegam tratores, motosserras e promessas de impunidade.
Ao chegar, os fiscais confirmaram que o desmatamento avançava dentro de uma área titulada pelo Interpi e pertencente à comunidade tradicional Salto. Moradores já vinham relatando a pressão de invasores sobre o território coletivo. No local, o responsável pela derrubada foi flagrado armado. Preso por porte ilegal pela Polícia Militar. Junto dele, dois papagaios com as asas cortadas, símbolo doloroso do tipo de violência ambiental que se pratica longe das câmeras, e a motosserra usada para abrir a clareira ilegal. Tudo apreendido. Tudo lavrado. Multa a caminho, podendo chegar a R$ 10 mil.
Mas essa operação é apenas uma peça de um tabuleiro bem maior. Em 2025, o setor de fiscalização da Semarh já realizou 21 ações contra o desmatamento, um crescimento de quase 10% em relação ao ano passado. E o esforço não é só de quantidade, é de qualidade, estratégia e persistência. O reflexo está nos números: o desmatamento ilegal despencou 68% no primeiro semestre, na comparação com 2024. Um resultado raro no Brasil e que recoloca o Piauí no mapa dos estados que tratam a proteção ambiental como política de Estado, não como retórica.
Para Renato Nogueira, gerente de Fiscalização da Semarh, não existe mágica, existe trabalho. “Esses avanços não acontecem por acaso. São o resultado de equipes que percorrem grandes distâncias, analisam dados, respondem às denúncias e atuam com rigor técnico. A redução expressiva do desmatamento mostra que quando o Estado se faz presente, a floresta responde”, afirma.
E é exatamente isso que se vê no Piauí neste momento: presença. Fiscal em campo, satélite rodando, denúncia atendida, arma apreendida, invasor preso. Não é discurso, é ação. Num país onde cada hectare preservado vale por uma política pública inteira, o Piauí segue avançando, operação após operação, para proteger seus territórios, suas comunidades e um patrimônio ambiental que não pertence apenas a esta geração, mas às que ainda virão. O recado está dado. E está sendo entendido.