Mulheres do sertão transformam a folha da carnaúba em arte e sustento no Piauí
Em Campo Maior, a Amacep reúne mais de 70 artesãs que vivem do trabalho com a carnaúbaPiauí, orgulho que a gente sente e celebra!
Entre o barulho do vento que sopra os carnaubais e o som das mãos habilidosas trançando palhas, nasce o sustento e a esperança de dezenas de mulheres do interior do Piauí. Na comunidade Resolvido, a cerca de 17 quilômetros de Campo Maior, um grupo de artesãs transforma a folha da carnaúba em peças que carregam história, resistência e identidade.
Uma dessas mulheres é Fátima Santos, integrante da Associação das Mulheres Artesãs Carnaubeiras do Estado do Piauí (Amacep). Ela e outras 75 mulheres fazem do artesanato a principal fonte de renda da comunidade. “Muitas vezes pensei em desistir, mas sempre lembrava do porquê que comecei. É da carnaúba que a gente tira o sustento e também o orgulho”, conta Fátima, com um sorriso de quem aprendeu a transformar a dureza do sertão em arte.
O trabalho começa cedo, nos carnaubais. Homens como seu Domingos, experiente no ofício, sobem entre as árvores e, com o uso de uma ferramenta especial, cortam as folhas da carnaúba uma a uma. O processo é totalmente manual e exige cuidado e precisão. As folhas são reunidas, secas e depois passam pelas mãos das mulheres, que as transformam em trançados, bolsas, chapéus e outros produtos.
“Quando eu era pequena, via meu pai tirando palha e ficava tentando fazer tranças, mas nunca dava certo”, relembra Fátima. “Em 2022, participei da primeira oficina para resgatar esse trançado, e foi aí que tudo mudou. O artesanato virou a minha principal fonte de renda.”
A Amacep nasceu do desejo de fortalecer o trabalho das mulheres carnaubeiras e preservar uma tradição que atravessa gerações. Aos poucos, a associação ganhou visibilidade, ampliou a produção e começou a participar de feiras e eventos em todo o estado.
Entre os dias 23 e 25 de outubro, Fátima representará a comunidade na 2ª Feira da Agricultura Familiar, Povos Tradicionais e Economia Solidária, em Teresina, levando o talento e a história das mulheres de Campo Maior para o centro das atenções. “A gente participou da edição passada e o retorno foi muito bom. Este ano, está tudo mais organizado, e a expectativa é ainda melhor”, conta animada.
No sertão, onde o sol castiga e as oportunidades são escassas, o trabalho com a carnaúba vai muito além do sustento. É símbolo de força, união e resistência. E cada peça feita à mão carrega um pedaço da história dessas mulheres que, entre palhas e sonhos, seguem trançando o futuro com dignidade.