Quilombo Olho d’Água dos Negros preserva memória e tradições em Esperantina
Reconhecido pela Fundação Palmares, território fortalece cultura, identidade e sustentabilidadeO quilombo Olho d’Água dos Negros, localizado em Esperantina, no Norte do Piauí, é um dos primeiros do estado a ser reconhecido pela Fundação Cultural Palmares. O território guarda uma história marcada pela dor da escravidão, mas que hoje se transforma em conquistas, fortalecimento cultural e valorização da identidade quilombola. A preservação das sementes crioulas, das danças, músicas e dos sistemas agroflorestais que unem cerrado e Amazônia são marcas dessa resistência.

Para os moradores, o reconhecimento oficial mudou não apenas a relação com a terra, mas também o modo de se afirmarem enquanto quilombolas.
“Através disso é que a gente busca motivação de entreter, fazer a inclusão dos jovens para conhecer a história e de alguma maneira poder retribuir em forma de dança, teatro, artesanato, que é o que a gente faz aqui. É justamente devido a essa luta e esse sofrimento que nos dá força para reunir jovens, crianças e manter viva a cultura da comunidade”, afirma a coreógrafa Nubia Santos.

A comunidade se organiza coletivamente para preservar tradições e promover celebrações, como as atividades no Dia da Consciência Negra. O quilombo mantém o antigo casarão como espaço de encontro, apresentações culturais e atividades comunitárias.
“Eu fico muito emocionada quando acontece uma atividade dessa, porque é um momento de resgatar nossas histórias e descendências. Nós temos que resgatar nossas raízes para nossos filhos e bisnetos, deixar essa história marcada na comunidade”, relata Maria dos Milagres, quilombola.

Além da preservação cultural, o território se destaca por práticas sustentáveis que unem tradição e inovação. De acordo com Josenildo Souza, coordenador da Estação de Aquicultura da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), os quilombolas têm dado “lições ao mundo ao contar suas próprias histórias e manter costumes, tradições e sementes originais da terra, livres de agrotóxicos”.
Ele destaca ainda a implantação de um sistema agroflorestal que integra espécies do cerrado e da Amazônia, como buriti, araçá, manga e caju, garantindo segurança alimentar e preservação ambiental.

O reconhecimento do Olho d’Água dos Negros é símbolo da luta pela valorização da memória e da identidade quilombola no Piauí. Mais do que território, o espaço representa a força de um povo que transforma dor em resistência, tradição em futuro e memória em legado.
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