Com fila para exames, FMS sugere que pacientes 'talvez' sejam atendidos em mutirão
Nota oficial expõe falhas na regulação e reforça sensação de abandono na rede públicaA crise na saúde pública de Teresina ganhou mais um capítulo nesta terça-feira (09/12), após a Fundação Municipal de Saúde divulgar uma nota que evidencia a desorganização crescente na regulação de exames e o colapso no atendimento básico. Em vez de assegurar assistência, a FMS orientou que os pacientes que aguardam eletrocardiograma, radiografia de tórax, ultrassonografia pélvica ou transvaginal, exames radiológicos, tomografia computadorizada e ultrassonografia de articulação procurem a UBS mais próxima para “atualizar dados cadastrais” e, somente então, “talvez” participarem de um mutirão que segue até o dia 12.
A escolha da palavra “talvez” sintetiza a realidade enfrentada pelos teresinenses: a ausência de garantia mínima de atendimento, mesmo após meses de espera em filas que parecem não andar. Para muitos usuários, a orientação soa como mais um deslocamento desnecessário, empurrando a responsabilidade para a população e mascarando a incapacidade da rede municipal de absorver a demanda reprimida.
Na legenda que acompanhou a nota oficial, a FMS reforçou que as equipes da Atenção Básica irão verificar se a regulação dos pacientes já está agendada e, caso não esteja, indicarão se eles estão aptos a entrar no mutirão realizado nas unidades Dirceu, Monte Castelo e Lineu Araújo. A mensagem, porém, expõe um sistema que falha justamente no ponto mais crítico: a transparência e a eficiência no fluxo de marcação de exames, etapa essencial para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.
Enquanto isso, usuários relatam percorrer postos diferentes em busca de informações, enfrentar filas que começam de madrugada e voltar para casa sem garantia de quando, ou se, serão atendidos. O cenário reforça o sentimento de abandono e alimenta a percepção de que a saúde pública da capital opera no improviso, longe do planejamento que a população espera.
Com a divulgação da nota, a FMS admite, ainda que indiretamente, a incapacidade atual de garantir atendimento universal aos pacientes em espera. Resta aos teresinenses recorrer às UBSs e torcer para serem incluídos no mutirão, retrato de um sistema que deveria funcionar como política pública permanente, não como medida paliativa diante de um quadro que já ultrapassou os limites do aceitável.