Ex-prefeito Dr. Pessoa é indiciado em esquema de cancelamento ilegal de multas

O indiciamento foi feito pelo Departamento de Combate à Corrupção (DECCOR)

O ex-prefeito de Teresina, Dr. José Pessoa Leal, foi indiciado pela Polícia Civil do Piauí pelos crimes de associação criminosa e inserção/exclusão indevida de dados em sistemas de informação. O indiciamento foi feito pelo Departamento de Combate à Corrupção (DECCOR) e é resultado da Operação Reset, deflagrada em julho de 2025, que apurou o cancelamento irregular de 2.419 multas emitidas pela Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (Strans) entre fevereiro e junho de 2024.

De acordo com o relatório final, mesmo negando envolvimento, Dr. Pessoa foi citado por seu sobrinho, Bruno Migliano Pessoa, ex-superintendente da Strans, como responsável por determinar os cancelamentos. As investigações também apontaram que Lucas da Rocha Lima, servidor nomeado pelo então prefeito e filho de um amigo pessoal, foi estrategicamente colocado na área de gestão de trânsito para executar as exclusões ilegais.

Além de Dr. Pessoa, também foram indiciados: Bruno Migliano Pessoa, Daniel Lima Araújo, Lucas da Rocha Lima, Lídia Maria Felix Carvalho da Costa e Witalo de Sousa Santos. As penas podem chegar a 12 anos de reclusão.

Foto: Alessandra Fonseca/Conecta Piauí
Prefeito Dr. Pessoa

Como funcionava o esquema

O levantamento da Polícia Civil mostrou que três servidores eram responsáveis por dar o chamado “reset” nas multas: Lucas da Rocha Lima, Lídia Maria Felix Carvalho da Costa e Witalo de Sousa Santos.

Lucas da Rocha Lima, então gerente de Gestão de Trânsito, foi o principal executor das fraudes. Ele excluiu 1.628 multas, causando prejuízo de R$ 367,4 mil aos cofres públicos e eliminando 9.046 pontos de CNHs. Parte dos cancelamentos foi feita fora do horário de expediente, inclusive sem qualquer solicitação formal.

Witalo de Sousa Santos, terceirizado indicado por parentes de Dr. Pessoa, apagou 333 infrações, gerando perda de R$ 77 mil e afastando quase 1.900 pontos das habilitações.

Lídia Maria Felix Carvalho da Costa, também terceirizada, cancelou 254 multas, com impacto de R$ 58,7 mil e retirada de 1.454 pontos de motoristas infratores.

Segundo a polícia, Lídia e Witalo atuavam sob ordens diretas de Lucas da Rocha, que, por sua vez, tinha respaldo do ex-superintendente Bruno Migliano Pessoa e do então gerente Daniel Lima Araújo.

Benefícios pessoais

As investigações ainda mostraram que os próprios gestores foram beneficiados. Em maio de 2024, uma multa aplicada ao veículo de Bruno Pessoa foi anulada por Lucas da Rocha. Já Daniel Araújo também teve multa da esposa cancelada, evidenciando que o esquema favorecia pessoas próximas ao alto escalão da Strans.

Próximos passos

O relatório final, assinado pelo delegado Ferdinando Martins, reforça que há provas suficientes da autoria e materialidade dos crimes. O caso segue para a Justiça, que deverá decidir sobre o andamento das ações penais, cíveis e administrativas.

A Operação Reset permanece em curso e novas fases não estão descartadas, podendo atingir outras autoridades políticas e parlamentares. O episódio levanta questionamentos sobre a fragilidade nos mecanismos de controle das administrações municipais e pode trazer sérias consequências para a carreira política de Dr. Pessoa.

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