No Piauí, o tempo e a distância ainda são desafios diários para quem trabalha
No relógio do trabalhador piauiense, cada minuto é lutaHá um relógio invisível que marca o compasso da vida de quem trabalha. No Piauí, ele começa a rodar cedo — muito antes do ponto bater, da sirene tocar ou do motor da moto roncar. São jornadas que não cabem apenas nas horas do expediente: para milhares de piauienses, o tempo de deslocamento também é trabalho.
O Censo Demográfico de 2022 mostrou que quase 1% da população do estado (0,96%) — cerca de 8 mil pessoas — gasta até quatro horas por dia apenas para chegar ao serviço. É o segundo maior percentual do país, atrás apenas do Pará (0,97%). Mas esse número não significa necessariamente quatro horas de trânsito contínuo. Segundo o IBGE, esse grupo inclui também pessoas que não retornam todos os dias para casa, ou que se deslocam para outros municípios e acabam dormindo fora durante a semana, por motivos de trabalho ou distância.

No geral, levando em consideração a ida e a volta, a pesquisa apontou que 81,31% das pessoas ocupadas leva até 30 minutos para se deslocar de sua residência para chegar ao local de trabalho. É interessante registrar que cerca de 2,2 mil piauienses, o equivalente a 0,26% do total de pessoas ocupadas no estado, leva mais de duas horas para se deslocar de casa até o local de trabalho.
Esses dados mostram o quanto a questão da mobilidade ainda impacta a produtividade e a qualidade de vida do trabalhador piauiense. “Em muitas cidades, as pessoas dependem de motocicletas, transporte alternativo ou simplesmente caminham grandes distâncias. Não é apenas sobre tempo, mas sobre desigualdade de acesso”, explica Eyder Mendes, supervisor de disseminação de informações do IBGE no Piauí.

De fato, a motocicleta é o principal meio de transporte no estado, utilizada por 41,08% das pessoas ocupadas — o segundo maior índice do Brasil, atrás apenas de Rondônia. Logo depois vêm o automóvel (20,2%), o deslocamento a pé (16,33%), o ônibus (9,19%) e a bicicleta (7,57%).
Na capital, 41,88% dos trabalhadores de Teresina gastam entre 15 e 30 minutos para chegar ao trabalho, enquanto 23,04% fazem o trajeto em até 15 minutos. Já em Jardim do Mulato, pequeno município do interior, quase metade da população (48,34%) leva apenas cinco minutos para chegar ao serviço — um retrato do contraste entre o urbano e o rural, entre a pressa e a calma.

O Piauí é um estado em movimento — e esse movimento tem rosto, suor e história. As motos que cruzam as estradas de chão batido, as bicicletas que desafiam o sol forte, os passos que cortam ruas sem sombra. Mas agora, também tem um metrô gratuito que começa a encurtar distâncias e abrir caminhos.
No relógio do trabalhador piauiense, cada minuto é luta. E quando o tempo de chegar fica mais curto, a vida começa a caber um pouco melhor dentro do dia.