Conecta Piauí

Notícias

Colunas e Blogs

Blogs dos Municípios

Outros Canais

Em Pauta

Matérias jornalísticas trabalhadas com dados e profundidade aqui no Conecta Piauí

O Rivengo desce ao inferno com elegância

A história, essa senhora cruel e espirituosa, decidiu brincar com os torcedores
Em Pauta

Senhoras e senhores, preparem seus corações e seus calmantes. Depois de quatro longos anos, o Piauí voltará a assistir ao seu maior espetáculo da terra: o Rivengo. O clássico dos clássicos, o encontro dos dois clubes que dividiram amores, ódios e domingos inteiros de uma província inteira. Só que, desta vez, o palco é outro — o inferno. Sim, senhoras e senhores, o Rivengo de 2026 será disputado na Segunda Divisão do Campeonato Piauiense.

Foto: Federação de Futebol do Piauí/Divulgação / EstadãoMascotes do Flamengo do Piauí e River
Mascotes do Flamengo do Piauí e River

A história, essa senhora cruel e espirituosa, decidiu brincar com os torcedores. O River, que já foi soberano, que já fez do Albertão uma catedral, tropeçou na própria vaidade e despencou no campeonato deste ano. O Flamengo, que há três temporadas tenta subir e sempre esbarra no penúltimo degrau, perdeu mais uma vez — desta feita para o Teresina — e estacionou no purgatório da Série B. O destino, irônico como um juiz mal-intencionado, decidiu reunir os dois na lama. 

Mas, atenção: lama também é palco. E é de lá que brotam as flores mais impensáveis.

Estamos falando de um clássico quase octogenário, nascido quando o rádio ainda fazia milagres e o futebol era uma religião de calças curtas. São 366 partidas oficiais — 139 vitórias do River, 117 do Flamengo, 110 empates que dividiram o coração das famílias e, às vezes, até dos casais. O Rivengo é o 14º clássico mais antigo do Nordeste, um patrimônio que sobreviveu a ditaduras, enchentes, tabelas bizarras e arbitragens inexplicáveis.

E o mais fascinante é que, mesmo na Série B, ele continua a ser o mesmo teatro da alma humana. Haverá o torcedor tricolor com a camisa amarrotada de esperança, e o rubro-negro com aquele olhar de desconfiança eterna. Haverá vaias, haverá lágrimas e, sobretudo, haverá poesia. Porque o Rivengo nunca precisou de títulos para ser grande — basta existir.

Em 2019, o clássico foi lembrado por um capricho do destino: o River e o Flamengo piauienses, homônimos perfeitos dos colossos da final da Libertadores entre River Plate e Flamengo. Já teve um tempo que o Albertão respirava glória, com mais de 40 mil torcedores delirando nas arquibancadas, como na final de 1977, entre os rivais. Agora, talvez sejam 400, mas o fervor será o mesmo. Porque o torcedor piauiense é desses — acredita até no impossível, mesmo quando o impossível veste a camisa do time rival.

E assim, o Rivengo de 2026 promete ser o mais humano, o mais trágico, o mais Nelson Rodrigues de todos os tempos. Dois gigantes cambaleando no subsolo do futebol, mas ainda gigantes. Porque a grandeza não está na divisão, mas no drama. E drama, meus amigos, o Rivengo sempre teve de sobra.

No fim das contas, talvez o que o futebol mais precise seja disso: um pouco de vergonha, um tanto de queda e uma boa dose de redenção. Que venha, portanto, o Rivengo da Série B — o clássico que desceu ao inferno, mas com a elegância de quem sabe que, cedo ou tarde, o céu também tem vaga para os condenados

Comente