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Piauí registra 3.387 acidentes de trabalho em 2024

O que o boletim mostra, portanto, é menos uma estatística e mais um estado de alerta
Redação

O Piauí encerrou 2024 com 3.387 acidentes de trabalho notificados, segundo o Boletim Informativo de Saúde divulgado essa semana. Os números, levantados pelo Cerest, revelam a face mais vulnerável da força de trabalho piauiense: homens, pardos, com baixa escolaridade e atuando em atividades de alto risco.

O perfil se repete com precisão quase cruel. Quase 90% das vítimas são homens, ocupando funções historicamente marcadas pelo esforço físico e pouca proteção. Pardos e pretos somam mais de 80% dos casos, refletindo desigualdades que se reproduzem no ambiente laboral. E a baixa escolaridade aparece como fator recorrente, especialmente entre trabalhadores que não concluíram o Ensino Fundamental.

A informalidade atravessa todo o diagnóstico. Autônomos e trabalhadores sem registro concentram quase metade das ocorrências, expostos a jornadas longas, ausência de treinamento e equipamentos deficientes. Entre as ocupações mais atingidas estão pedreiros, trabalhadores rurais e motociclistas entregadores, profissões que carregam no cotidiano a urgência do sustento e o risco constante.

Mas talvez o dado mais preocupante seja aquilo que não aparece: a subnotificação. Regiões inteiras, como o Vale do Sambito, o Vale dos Rios Piauí e Itaueira, a Serra da Capivara e o território dos Cocais registraram pouquíssimos ou nenhum caso ao longo do ano, não porque o trabalho seja mais seguro, mas por falta de vigilância. Muitos formulários chegam incompletos, com lacunas em informações básicas como escolaridade, vínculo empregatício ou desfecho do acidente.

O que o boletim mostra, portanto, é menos uma estatística e mais um estado de alerta. A saúde do trabalhador no Piauí segue marcada pela invisibilidade, de quem trabalha sem proteção, sem direitos e, muitas vezes, sem sequer existir nos registros oficiais.