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Dia da Alfabetização: idosos encontram em sala de aula um novo ponto de partida

O Conecta Piauí descobriu lindas histórias no CEJA Maria do Carmo Reverdosa, no Dirceu
Redação

Nesta sexta-feira (14), Dia Nacional da Alfabetização, o aprendizado ganha novos significados nas salas do CEJA Professora Maria do Carmo Reverdosa da Cruz, no grande Dirceu, zona Sudeste de Teresina. Ali, entre cadernos, letras e histórias de vida, adultos e idosos que um dia deixaram a escola estão reencontrando o prazer de aprender e o Conecta Piauí mostra com riqueza de detalhes história de superação que inspiram.  

Foto: Conecta Piauí / James RodriguesDia da Alfabetização: idosos econtram em sala de aula um novo ponto de partida
Dia da Alfabetização: idosos econtram em sala de aula um novo ponto de partida

Hoje, a escola atende cerca de 100 alunos nos turnos da tarde e noite, entre jovens e adultos que buscam se alfabetizar ou concluir a etapa final dos estudos. O processo é organizado em diferentes fases: o Alfabetiza, voltado à educação infantil; as etapas de 1ª a 5ª refaz o ensino fundamental; e, em seguida, o ensino médio integrado ao técnico, dividido em cinco módulos. Após a conclusão, os alunos estão aptos até mesmo a ingressar no ensino superior. 

Aos 83 anos, dona Luiza é um dos rostos mais conhecidos do turno da tarde. Ela voltou à escola movida pela curiosidade e pela certeza de que o conhecimento é vivo, e que nunca é tarde para acompanhar as transformações do mundo.

“Já sabia escrever, já sabia ler, mas eu quero continuar. O estudo agora é totalmente diferente, a gente aprende muita coisa. É muito bom esse projeto. A gente se orgulha dos professores da gente. É uma satisfação muito grande estar aqui todo dia”, contou, com entusiasmo. 

Foto: James Rodrigues/Conecta PiauíAos 83 anos, dona Luiza é um dos rostos mais conhecidos do turno da tarde
Aos 83 anos, dona Luiza é um dos rostos mais conhecidos do turno da tarde

Entre risadas, ela confessa que nem todas as aulas são suas preferidas, “educação física, por exemplo, não gosto muito”, mas o convívio e o estímulo intelectual fazem tudo valer a pena. Dona Luiza sente prazer em estar naquela sala de aula, e mesmo debaixo de sol muito forte ela não larga suas aulas, seus colegas, seus professores preferidos e segue firme na sua jornada.  “Vamos estudar! Aprende sim. Isso muda muita gente, muda muito.”

O sentimento de dona Luiza é compartilhado por seu Raimundo Ferreira Filho, aposentado, que mesmo largando os estudos pelo trabalho ainda vê na escola uma nova chance de independência.

“Sem saber de nada, a gente fica difícil para trabalhar, para resolver vários tipos de coisa. Eu já sabia um pouco ler e escrever, mas com o tempo a gente esquece. Ler e escrever é coisa que tem que sempre estar se atualizando, porque se parar, esquece. Agora quero continuar até conseguir o ensino médio”, contou. 

Foto: James Rodrigues/Conecta PiauíRaimundo Ferreira Filho, aposentado
Raimundo Ferreira Filho, aposentado

Seu Raimundo também contou que uma de suas dificuldades pela falta de entendimento era acessar um caixa eletrônico, que as vezes dependia de pessoas que nem sempre estavam dispostas a ajudar. "Por esse motivo e outros mais estou retornando, e vou ficar até conseguir pelo menos o ensino médio”, finalizou. 

O professor de Matemática Danilo Santos acompanha de perto esses recomeços e diz que as histórias dos alunos são inspiradoras.

“A maioria já tem a vida feita, mas volta pra sala de aula porque quer entender melhor o mundo. No início, a gente faz o acolhimento e depois os conteúdos. É inspirador ver pessoas com tanta vontade de aprender, mesmo depois de tanto tempo.” 

Foto: James Rodrigues/Conecta PiauíDanilo Santos, professor de Matemática
Danilo Santos, professor de Matemática

Para o diretor Pedro Thiago, o CEJA é um espaço de inclusão e acolhimento, preparado para atender diferentes perfis e idades.

“Nossa escola abrange um leque de faixas etárias, de jovens a idosos. O problema da alfabetização no Brasil é geral, não é de uma idade só. Temos alunos do AEE, o Atendimento Educacional Especializado, porque acreditamos numa educação inclusiva, que acolhe todos os tipos de pessoas e necessidades.”  

Foto: James Rodrigues/Conecta Piauídiretor do CEJA, Pedro Thiago
Diretor do CEJA, Pedro Thiago

A experiência desses alunos dialoga diretamente com o esforço estadual de combater o analfabetismo. Segundo o secretário de Estado da Educação, Washington Bandeira, o Piauí tem avançado de forma expressiva nessa área.

“O Piauí, nos últimos anos, é o estado que mais reduz a taxa de analfabetismo de jovens e adultos em todas as faixas etárias. Temos mais de 8 mil alfabetizandos e 20 mil matriculados no programa Alfabetiza Piauí. Queremos ser o estado com o menor índice do Nordeste, e, em breve, do Brasil. Estamos recompondo a dignidade dessas pessoas que agora aprendem a ler e escrever.” 

Foto: Conecta PiauíWashington Bandeira fala sobre avanços da Educação pública na Feira dos Municípios
Washington Bandeira, Secretário de Estado da Educação 

No CEJA Professora Maria do Carmo Reverdosa da Cruz, a alfabetização é mais que o domínio das letras — é uma ferramenta de transformação. Entre cadernos e sorrisos, os alunos redescobrem o prazer de aprender e provam que nunca é tarde para reescrever a própria história.