Distribuidora no Piauí ligada ao PCC seria base para abastecer estados do Nordeste
A unidade seria usada para movimentar combustível adulterado e disfarçar a origem de recursos
A Polícia Civil do Piauí revelou que a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) consolidou uma estrutura de lavagem de dinheiro e fraudes bilionárias no mercado de combustíveis do estado . O esquema, segundo relatório do Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO), envolvia empresários locais e fundos de investimento ligados a grupos financeiros de São Paulo .
A investigação aponta que o PCC usava o Piauí como ponto estratégico para ampliar suas operações no Nordeste e construir uma base logística de distribuição de combustíveis voltada a abastecer outros estados da região.
Núcleo financeiro da facção no Piauí
De acordo com as investigações, a facção operava por meio de uma rede de empresas de fachada, holdings e fintechs criadas para movimentar e ocultar recursos de origem ilícita. Essas companhias assumiram o controle de postos e distribuidoras em vários municípios piauienses , inclusive de grandes redes conhecidas na capital e no interior.
A base dessa operação foi identificada após a venda da Rede de Postos HD, um conglomerado com dezenas de unidades no Piauí, Maranhão e Tocantins . A compradora, Pima Energia Participações Ltda., foi aberta menos de uma semana antes da transação, o que despertou a atenção dos investigadores.
Esquema empresarial e conexões com São Paulo
A Polícia Civil constatou que a estrutura empresarial usada no Piauí replicava o modelo nacional de lavagem financeira do PCC.
Empresas registradas na Avenida Paulista, tradicional centro financeiro de São Paulo, surgiram com capital social incompatível com o volume de negócios que passaram a realizar . Algumas delas tinham sócios interligados a operadores já investigados em outras fases da Operação Carbono Oculto , que desmontou um esquema de R$ 52 bilhões em fraudes e lavagem de capitais.
Entre os nomes citados na investigação estão empresários piauienses Haran Santhiago Girão Sampaio e Danillo Coelho de Sousa, ex-proprietários da rede HD , além de Denis Alexandre Jotesso Villani, ligado à Rede Diamante, grupo que assumiu o controle de diversos postos no Piauí e Maranhão.
Construção de distribuidora e lavagem em larga escala
O relatório aponta que o grupo estava construindo uma distribuidora de combustíveis na rodovia que liga Teresina ao município de Altos , projetada para funcionar como um centro regional de abastecimento. A unidade seria usada para movimentar combustível adulterado e disfarçar a origem de recursos enviados a empresas controladas pelo PCC em outros estados.
A operação identificou mais de 70 CNPJs relacionados direta ou indiretamente ao grupo, com movimentações financeiras atípicas que somam R$ 5 bilhões em todo o esquema, sendo R$ 300 milhões apenas no Piauí . Também foram detectadas transferências diretas de valores entre investigados locais e empresas controladas por laranjas da facção paulista.
Modus operandi da organização
As investigações apontam que o PCC utilizava uma série de mecanismos para dar aparência legal às transações .
Entre os principais métodos identificados estão:
- Criação de holdings e fundos de investimento para mascarar beneficiários finais;
- Aquisição de postos de combustíveis por empresas recém-criadas em São Paulo;
- Substituição de bandeiras comerciais sem alteração operacional real;
- Emissão de notas fiscais sobrepostas e adulteração de combustível para aumentar lucros e justificar movimentações financeiras;
- Uso de fintechs e contas interligadas para dificultar o rastreio dos valores.
Essas práticas resultaram em evasão fiscal milionária e concorrência desleal no mercado, prejudicando empresas regulares e consumidores.
Prejuízos e riscos à sociedade
Segundo o dossiê, o grupo promovia venda de combustíveis adulterados, o que representa risco direto aos consumidores e danos ambientais . Além disso, o controle territorial e econômico sobre o setor ampliava o poder financeiro do PCC no Nordeste , ameaçando a livre concorrência e a estabilidade do mercado regional.
Medidas judiciais e operação policial
Com base nas provas reunidas, a Polícia Civil do Piauí obteve da Justiça a interdição de 49 postos de combustíveis nos estados do Piauí, Maranhão e Tocantins .
Também foram decretados:
- Bloqueio de contas bancárias e bens avaliados em R$ 348 milhões;
- Prisão temporária de suspeitos;
- Busca e apreensão em residências e sedes empresariais;
- Suspensão de licenças e notas fiscais de companhias investigadas.
Durante as ações, a polícia apreendeu veículos de luxo, incluindo um avião particular e um Porsche avaliado em mais de R$ 550 mil.
Conclusão: o braço econômico do PCC
A investigação conduzida pelo DRACO mostra que o PCC consolidou no Piauí uma célula financeira estruturada , com autonomia para movimentar grandes valores e expandir negócios ilícitos sob disfarce empresarial.
O relatório classifica o caso como uma das maiores operações econômicas já realizadas pela segurança pública piauiense, sendo um avanço no combate à infiltração do crime organizado em setores formais da economia .