Ciro Nogueira perde aliados e vê derreter influência no Piauí às vésperas de 2026
O contexto estadual torna o cenário ainda mais complexo para CiroCitado nos bastidores como possível candidato a vice-presidente de uma chapa da direita em 2026, o senador Ciro Nogueira enfrenta turbulências tanto dentro de sua base política no Piauí quanto na projeção nacional. Nos últimos dias, ele foi alvo de críticas contundentes da família Mão Santa, tradicional força política em Parnaíba, o que escancarou fissuras no seu apoio regional. A opinião é do colunisca Carlos Madeiro, do UOL.

A oposição entre Ciro e a família Mão Santa ganhou contornos públicos quando a deputada estadual Gracinha Mão Santa (PP), filha do ex-governador Mão Santa, declarou que se sente traída e lançou provocações diretas ao senador. Segundo ela, Ciro “poderia perder” politicamente se interferisse nos planos eleitorais de Parnaíba, uma referência às declarações que ele fez em podcast local. Na Assembleia Legislativa, ela disse:
“Ele não está conseguindo viabilizar seu nome como candidato a vice-presidente, está muito desgastado…”
A rivalidade ganhou contornos práticos meses antes, quando um decreto assinado pelo novo prefeito de Parnaíba (e aliado de Ciro) afastou nomes ligados à família Mão Santa de cargos públicos municipais, incluindo a mãe e o pai da deputada, até então figuras centrais na máquina política local. Para Gracinha, o gesto evidencia a ruptura e a perda de confiança irreversível.
O contexto estadual torna o cenário ainda mais complexo para Ciro. O Piauí sempre foi visto como um dos redutos mais leais ao PT: em 2022, o estado foi o mais “lulista” do país, com 76,84% dos votos válidos no segundo turno para Lula. Além disso, desde 2015 o estado é governado pelo partido adversário.
A guinada de Ciro, que se aproximou fortemente de pautas conservadoras e do bolsonarismo, é vista por analistas como um movimento arriscado no Piauí, onde ele perdeu terreno eleitoral e político. Em 2020, o PP elegeu 83 prefeitos no estado; em 2024, esse número caiu para 34.
O cientista político Vitor Sandes, da UFPI, analisa que a crise de Ciro é tanto local quanto estratégica:
“A mudança dele de um apoio ao PT para uma postura ultraconservadora virou uma ameaça ao seu próprio domínio. Ele hoje está em oposição ao governo federal e ao estadual, isso amplia seus riscos eleitorais.”
Apesar disso, Sandes pondera que Ciro ainda mantém relevância no estado, principalmente pelo papel que exerce como comandante do PP local.
Internamente, Ciro não apresenta uma liderança consolidada para disputar o governo do Piauí, o que o obriga a mirar o Senado. Mas ele já encontra no caminho dois nomes fortes da base governista: Marcelo Castro (MDB) e Júlio César (PSD).
Uma pesquisa recente feita pela Real Time Big Data (final de setembro), com 1.200 entrevistados e margem de erro de três pontos, posiciona Ciro em terceiro lugar nas intenções para o Senado (empatado tecnicamente em segundo):
Marcelo Castro (MDB): 28%
Júlio César (PSD): 21%
Ciro Nogueira (PP): 18%
Thiago Junqueira (PL): 9%
Ciente da contestação, Ciro tenta rebater com outra pesquisa, divulgada pela TV Costa Norte em parceria com o Instituto Amostragem (300 entrevistas, margem de erro de 5,54 pontos), onde aparece numericamente na liderança com 35,67% das intenções de voto.
As dificuldades políticas de Ciro também estão entrelaçadas a um histórico de investigações. Ele é alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal por suspeitas envolvendo corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução de justiça, especialmente no contexto da Operação Lava Jato.
No caso mais emblemático (Inquérito 4.407), ele é acusado de ter recebido R$ 7,3 milhões da Odebrecht. Já houve pedidos de denúncia, mas o STF rejeitou a acusação contra ele por decisão colegiada. Embora grande parte das denúncias permaneça indefinida no STF, o envolvimento em escândalos é um ponto sensível que alimenta críticas e sabotagens políticas.
A conjuntura revela uma trajetória cheia de riscos para Ciro Nogueira. No plano local, o rompimento com a família Mão Santa deixa clara a vulnerabilidade de sua base de apoio em Parnaíba, uma cidade símbolo para sua força política. No estado como um todo, seu reposicionamento ideológico o distancia de um eleitorado historicamente alinhado ao PT.
Na esfera nacional, o desgaste acumulado, somado aos processos judiciais que pairam sobre ele, enfraquece seu capital político como possível alavanca de uma chapa majoritária da direita. Mesmo assim, sua liderança no PP e sua visibilidade nacional ainda lhe garantem peso eleitoral, embora sem a “folga” que ele talvez imaginasse.
Para 2026, o cenário exige articulações cautelosas, tanto para reconciliar forças regionais quanto para enfrentar adversários enraizados no poder local e estadual. O desafio será equilibrar projeção nacional com alianças locais, sem descuidar da retaguarda jurídica e da credibilidade política.