Miguel Leão, distante menos de 100 km ao sul de Teresina, é o menor município do Piauí. Por lá, vivem exatamente 1.318 pessoas, segundo o Censo do IBGE, ocorrido em 2022. Nesse universo, quase todo mundo se conhece ou deve se conhecer. Sem falar que a maioria dos habitantes é descendente de uma mesma família, a Aréa Leão, que fundou a cidade a partir de uma fazenda de gado e uma pequena indústria para fabricação de aguardente e rapadura.

Porém, de quatro em quatro anos, o pequenino município, que também aparece entre os 15 menores do país, literalmente enche. São quase 500 pessoas que chegam de uma só vez, provocando um aumento de quase 40% na população local. E olha que nem é por causa de festejos ou comemorações de final de ano. Essa gente toda vai para poder votar. São, geralmente, filhos da cidade que foram morar fora e nunca transferiram o título de eleitor.

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“Eu moro em Teresina, já tem um tempo. Vim estudar, mas parte de minha família mora lá em Miguel Leão e eu sempre estou indo por lá. Então, nunca transferi meu título e sempre me período de eleição, seja qual for, eu vou para lá, cumprir com minha cidadania e aproveito para rever amigos e familiares”, disse Beatriz Soares, empreendedora e produtora de conteúdo para redes sociais. 

E essa realidade, em tempo de eleições, não é privilégio de Miguel Leão. Em todo o país, são quase 600 cidades com mais eleitores que habitantes, conforme os números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No Piauí, são exatos 54 municípios nessa condição. Isso equivale a quase 25% do total das cidades piauienses, ou se preferir, uma a cada quatro. E Miguel Leão ainda pode ser considerada “fichinha’ se comparada com Nazária, por exemplo. 

Na cidade mais jovem do Estado, fundada em dezembro de 1995, o número de eleitores a mais que habitantes é tão grande que quase dobra. Segundos os dados, são exatamente 6.665 moradores e 11.313 eleitores, o que corresponde a uma proporção de quase 170%. Os números foram feitos por meio de um cruzamento de dados do Censo 2022 com o total de eleitores aptos a ir às rumas em outubro deste ano. 

O total de eleitores das cidades piauienses nessa condição chega a mais de 320 mil, ou seja, mais de 12% do eleitorado do Estado, que é de pouco mais de 2,5 milhões de pessoas. Por outro lado, as 54 cidades que tem mais eleitores possuem menos de 290 mil habitantes, uma diferença de mais de 30 mil eleitores para habitantes. “São vários aspectos a serem analisados, que vão desde o domicílio afetivo até questões de trabalho”, informou a Justiça Eleitoral, acrescentando que cada caso é um caso. 

O cientista político Ricardo Arras comunga com o pensamento do domicílio eleitoral. Segundo ele, o fluxo de pessoas que deixam as cidades de origem em busca de melhores oportunidades é uma constante no Estado. “Isso sempre ocorreu e ainda ocorre no Estado. E essas pessoas deixam nas cidades Natal pais, avós, amigos, o que os mantêm ainda ligados ao município, sempre indo por lá. Então, em época de eleição é uma nova oportunidade de reencontro e exercer a cidadania”, pontuou. 

Já o também cientista político Cleber de Deus vê essa situação com preocupação. De acordo com ele, muitos desses casos podem ocorrer porque não está havendo uma atualização no cadastro eleitoral, pode ter eleitores mortos e nunca retirados e a migração de eleitores para outros estados. “Tudo isso precisa ser analisado, feito revisões, correições porque é um número grande de cidades nessa condição e que pode provocar um descrédito nas instituições que atuam nas eleições.  

info:

• Cidade – população censo 2022 – eleitorado – percentual 
• Agricolandia -  4.940 – 5.247 – 106,21%
• Aroazes – 5.369 – 5.604 - 104,37%
• Aroeiras do Itaim – 2.690 – 4103 – 152,52%
• Barreiras do Piauí – 3.264 – 3.690 – 113%
• Bocaina – 4.078 – 5.606 – 137,46%
• Bom Princípio – 5.636 – 6.402  - 113.59%
• Cajazeiras do Piauí – 3.108 – 3.637 – 117%
• Caxingó – 5.496 – 5.636 – 102,54%
• Coivaras – 4.117 – 5.290 – 128,49%
• Coronel José Dias – 4250 – 5.131 – 120,72%
• Currais – 4.854 – 5.687 – 117,16%
• Curralinhos – 4.413 – 4.981 – 112,87%
• Domingos Mourão – 4.075 – 4.240 – 104%
• Floresta do Piauí – 2.333 – 2.672 – 114,5%
• Francisco Aires  - 4.412 – 4.780 – 108,34%
• Geminiano – 5.445 – 6.250 – 114,78%
• Guaribas – 4.276 – 4.438 – 103,78%
• Hugo Napoleão – 3.518 – 4.274 – 121,48%
• Jardim do Mulato – 4.180 – 4.408 – 105,45%
• Jatobá – 4.494 – 6.293 – 140%
• Jerumenha – 4.497 – 4.734 – 105,2%
• João Costa – 2.970 – 3.513 – 118,28%
• Juazeiro do Piau – 5.214 – 5.440 – 104,33%
• jurema – 4.425 – 5.038 – 113,85%
• Lagoinha do Piauí – 2.939 – 3.219 – 109,5%
• Massapê do Piauí – 5.218 – 6.178 – 118,39%
• Miguel Leão – 1.318 – 1.797 – 136,34%
• Milton Brandão – 6.542 – 6.949 – 106,22%
• Nazária – 6.665 – 11.313 – 169,7%
• Nossa Senhora de Nazaré – 5.228 – 5.693 – 108,89%
• Novo Santo Antônio – 2.827 – 4.533  - 160,34%
• Paes Landim – 4088 – 4.211 – 103%
• Pajeú do Piauí – 3.000 – 3.408 – 113,6%
• Paquetá – 3.813 – 3.978 – 104,3%
• Pau D´Arco – 3.880 – 5.001 – 128,9%
• Pavussu – 3.677 – 3.894 – 105,9%
• Pedro Laurentino – 2.458 – 2.977 – 121,11%
• Prata do Piauí – 3.042 – 3.552 – 116,7%
• Santo Antônio de Lisboa – 5.839 – 6.155 – 105,4%
• São Felix do Piauí – 2.842 – 3.788 – 133,28%
• São Francisco do Piauí – 5.392 – 6.204 – 115%
• São João da Canabrava – 4.242 – 4.574 – 107,8%
• São João da Serra – 6.114 – 6.636 – 108,5%
• São José do Divino – 4.841 – 5.040 -  104,11%
• São Lourenço do Piauí – 4.410 – 4.992 -  113,2%
• São Luis do Piauí – 2.309 – 3.502 – 151,6%
• São Miguel da Baixa Grande – 2.269 – 2.576 – 113,5%
• São Miguel do Fidalgo – 2.829 – 2.986 – 105,5%
• Sebastião Leal – 3.202 – 4.398 – 137,3%
• Socorro do Piauí – 4.141 – 4.278 -  103,3%
• sussuapara – 6.220 – 6.576 – 105,7%
• Tanque do Piauí – 2.316 – 2.567 – 110,8%
• Vera mendes – 3.185 - 3440 – 108%
• Wall Ferraz – 4.059 – 4.127 – 101,6%