É Antônio pra todo lado: cidade do Piauí tem maior percentual de nome popular
Segundo o último Censo do IBGE, 10% da população de Buriti dos Montes carrega esse nome
Buriti dos Montes, no coração do sertão piauiense, é daquelas cidades que parecem viver em um compasso próprio. Ruas de pedra, um horizonte recortado pelas serras e uma tranquilidade que só se encontra em lugares onde todos se conhecem pelo nome, e, nesse caso, quase sempre, o nome é o mesmo: Antônio.
Segundo o último Censo do IBGE, 10% da população de Buriti dos Montes carrega esse nome. É o maior percentual do país. Em números absolutos, o Brasil tem mais de 2,2 milhões de Antônios, e o Piauí aparece como o segundo estado com maior proporção, com quase 92 mil pessoas, ou 2,81% da população, perdendo apenas para o Ceará, onde 3,4% dos habitantes atendem por Antônio. Mas, quando se trata de concentração, Buriti dos Montes lidera com folga: ali, é um em cada dez moradores.
O jovem Ricardo Luan, de 27 anos, nasceu e cresceu na cidade. É filho de um Antônio, sobrinho de vários outros e tem amigos que se confundem nos grupos de mensagens. “Pois é, na questão dos Antônios, depois que falei contigo, fui refletir sobre esse dado, de quantos Antônios eu conheço. Eu acho que não deu nem pra contar aqui, porque eu tenho vários primos, conhecidos amigos também que são Antônio. Realmente aqui tem muitos mesmo”, diz, rindo.
Seu pai, Antônio Luís, de 50 anos, resolveu romper com a tradição. “Aqui todo mundo é Antônio, meu pai era, meus irmãos são, mas resolvi mudar um pouco”, conta. E assim, Ricardo e os três irmãos dele não herdaram o nome mais repetido da cidade.
Buriti dos Montes é pequena, cerca de 7,5 mil habitantes, mas cheia de particularidades. Localizada a 250 quilômetros ao sul de Teresina, o município abriga parte da Reserva Particular do Patrimônio Natural Serra das Almas, um dos refúgios mais importantes do bioma da Caatinga, e é rota de quem visita o Cânion do Rio Poti. As construções de pedra e o clima de comunidade reforçam o charme sertanejo.
Mas o que realmente chama a atenção é esse traço afetivo e cultural que parece atravessar gerações. “Antônio” é nome de santo, de avô, de pai e de filho. É promessa e é tradição. E, em Buriti dos Montes, virou uma espécie de símbolo local, tão comum quanto o som do sino da igreja ou o vento que sopra entre as serras. Na cidade dos muitos Antônios, o nome é mais do que uma coincidência: é uma forma de pertencer.