Piauí é o terceiro estado do país em perdas percentuais com o tarifaço americano
O mel foi o principal item afetadoO Piauí foi um dos estados brasileiros mais afetados, em termos proporcionais, pelo tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos nacionais. Segundo levantamento inédito do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o estado registrou uma queda de 68,6% nas exportações para o mercado norte-americano, o que o coloca como terceiro maior impacto percentual do país, atrás apenas de Mato Grosso (81%) e Tocantins (74,3%).
O dado, que traduz um baque relevante para uma economia em processo de diversificação e fortalecimento produtivo, revela a vulnerabilidade de pautas de exportação concentradas em poucos produtos. No caso piauiense, o mel foi o principal item afetado. O produto, reconhecido pela alta qualidade e pureza, tinha nos Estados Unidos seu principal destino comercial — um mercado que, agora, impõe tarifas pesadas ao produto brasileiro.
A reação, porém, tem sido marcada pela criatividade e pelo compromisso social. O governo do Piauí decidiu adquirir parte da produção que seria exportada para incluir o mel na merenda escolar da rede pública estadual. A iniciativa, além de amparar os produtores que perderam espaço no comércio internacional, agrega valor nutricional à alimentação de milhares de estudantes piauienses.
O estudo da FGV Ibre mostra que o impacto do tarifaço variou conforme o perfil das exportações de cada estado. Aqueles com cestas diversificadas e produtos isentos da sobretaxa, como São Paulo e Bahia, conseguiram minimizar as perdas. Já regiões com economia concentrada em poucos itens — como o Norte e o Nordeste — sofreram mais.
De acordo com o pesquisador Flávio Ataliba, do FGV Ibre, o caso piauiense ilustra bem o desafio. “O Piauí é um estado que vem ampliando sua inserção no comércio exterior, mas ainda depende de poucos produtos e parceiros. Esse episódio mostra a importância de diversificar mercados e consolidar políticas industriais regionais”, afirmou.
O impacto, embora preocupante, também abre espaço para reflexão e ajuste de rota. O Piauí vem apostando em cadeias produtivas de base sustentável, como mel, frutas e pescados, e tem buscado novos mercados internacionais, inclusive na Europa e no Oriente Médio.
O tarifaço norte-americano, que atingiu fortemente produtos agrícolas, madeireiros e alimentícios, é mais um episódio a lembrar o Brasil — e especialmente os estados do Nordeste — de que a dependência de poucos destinos de exportação torna a economia vulnerável a decisões unilaterais de parceiros comerciais.
Mas no caso piauiense, há um traço de resiliência. Em meio à queda nas exportações, o estado encontrou uma resposta que alia proteção social, segurança alimentar e sustentabilidade — ingredientes de uma política pública que transforma adversidade em aprendizado.
Já em relação a valores totais, Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo foram os estados que tiveram as maiores perdas nas exportações para os Estados Unidos após o tarifaço imposto por Donald Trump a produtos brasileiros. Santa Catarina, com baixa de US$ 95,9 milhões (R$ 515 milhões); São Paulo, de US$ 94 milhões (R$ 505 milhões); e Rio Grande do Sul, de US$ 88,8 milhões (R$ 477 milhões).