Vida de luxo de empresário ajudou na operação contra lavagem do PCC no Piauí
Segundo o inquérito, o rápido crescimento de empresas ligadas ao empresário levantou suspeitasA Polícia Civil do Piauí colocou no centro das investigações da Operação Carbono Oculto 86 o empresário Haran Santhiago Girão Sampaio, que nas redes profissionais sempre se apresentou como autor de uma trajetória empresarial bem-sucedida. A ascensão dele, marcada pela abertura de dezenas de postos de combustíveis, construtora, transportadora e negócios rurais em um intervalo curto de tempo, agora é apontada pelos investigadores como parte de uma estrutura usada para lavar recursos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
A discrepância entre o patrimônio declarado publicamente e as movimentações financeiras identificadas pela polícia chamou atenção da Inteligência da Polícia Civil, que passou a monitorar a expansão do grupo. Segundo o inquérito, o rápido crescimento de empresas ligadas ao empresário e a criação de novas estruturas em sequência levantaram a suspeita de que os negócios estavam sendo utilizados para ocultar dinheiro ilícito da facção criminosa.
A operação desencadeada nesta quarta-feira (5) mostrou que o grupo investigado movimentou valores expressivos por meio de postos de combustíveis, empresas recém-criadas, fintechs e fundos de investimento sem lastro econômico compatível. A polícia aponta que a rede servia como canal para adulteração de combustível, fraude fiscal e lavagem de capital, beneficiando diretamente o PCC.
Como parte das medidas judiciais, foram apreendidos bens de alto valor vinculados ao empresário, incluindo quatro aeronaves e um Porsche avaliado em mais de R$ 550 mil. As aeronaves foram levadas para registro de restrição na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A Justiça também bloqueou aproximadamente R$ 348 milhões em contas e bens pertencentes a investigados e a cerca de 60 empresas envolvidas no esquema.
Além das apreensões, foram interditados 49 postos de combustível distribuídos em cidades do Piauí, Maranhão e Tocantins. A Justiça impôs ainda medidas cautelares a seis empresários, incluindo Haran, que estão proibidos de deixar Teresina e não podem manter contato entre si.
A investigação ganhou força após a venda da Rede HD, conglomerado de postos controlado por Haran, para a empresa Pima Energia e Participações. A compradora foi criada poucos dias antes da negociação, o que levantou suspeitas sobre a real finalidade da transação. Segundo o DRACO, a operação teria sido utilizada para reorganizar parte do grupo e manter o esquema ativo sob nova titularidade, dificultando o rastreamento do dinheiro.
A polícia aponta que o conjunto de empresas e movimentações identificadas reproduz o mesmo padrão visto em investigações nacionais envolvendo o PCC: uso de laranjas, criação de holdings, emissão de notas fiscais incompatíveis e blindagem financeira por meio de fundos e fintechs. Para os investigadores, o caso representa um dos maiores avanços do braço econômico da facção na Região Nordeste.