Presidente da Câmara de São Miguel do Tapuio faz manobra para se manter no poder
Cimar Soares tenta reverter fim da reeleição, expõe autoritarismo e afronta vereadoras em plenárioUma grave polêmica política marca os bastidores da Câmara Municipal de São Miguel do Tapuio. O atual presidente da casa, vereador Cimar Soares, tem sido acusado de tentar uma manobra regimental para garantir sua permanência no cargo e reverter o fim da reeleição aprovado com voto unânime, inclusive do próprio presidente.
De acordo com relatos de parlamentares, o acordo político firmado previa que Cimar Soares não disputaria novo mandato, abrindo espaço para que a vereadora Letícia Monte, a mais votada da eleição de 2024, assumisse a presidência em um biênio posterio. No entanto, o presidente teria inserido, de forma discreta, um artigo na reformulação do regimento interno que restaura o direito à reeleição no comando da mesa diretora.
A manobra gerou reação imediata das vereadoras, que pediram vista do processo e questionaram a legalidade da mudança. Segundo relatos, o presidente negou os pedidos de vista, gritou com colegas e afirmou em plenário que “quem manda é ele”. O episódio foi classificado como machista e autoritário, já que as principais opositoras da medida são mulheres.
Na sessão do dia 30 de outubro, o vereador Djaci Nogueira contestou a ação do presidente e alertou para o descumprimento do próprio regimento interno.
“Vi que na última sessão a polêmica foi grande. Quero dizer ao presidente que a forma não é essa. O regimento é a espinha dorsal da Câmara e não pode ser alterado de forma unilateral. É preciso uma comissão e votação pela maioria absoluta. E mais: nós não podemos legislar em causa própria. Qualquer mudança só vale para a próxima legislatura”, afirmou Djaci em plenário.
A vereadora Letícia Monte se manifestou durante a sessão reforçando que não é contra a criação de um novo regimento interno, mas defendeu que o processo precisa seguir os trâmites legais e ser construído de forma coletiva.
“Precisamos realmente de um novo regimento, mas todos os vereadores receberam o projeto na terça-feira, e na quarta-feira ele já foi colocado em pauta. Então, de fato, precisamos de uma atualização, mas isso deve ser feito com responsabilidade: criando uma comissão, com o apoio de uma equipe jurídica, obedecendo às leis e às resoluções já aprovadas por esta Casa. Por essas razões, pedi vista do projeto para que ele não fosse colocado em votação. Fiz o pedido por meio de ofício, com base no artigo 20 do nosso atual regimento, que nos dá essa autonomia. A mesa diretora deve decidir sempre por maioria de seus membros. Sendo assim, eu e o vereador Laide, como maioria da mesa diretora, solicitamos oficialmente que o projeto de resolução que cria o novo regimento não entre em pauta neste momento. O presidente apresentou o texto de forma precipitada e cometeu erros que podem ser reparados. O ideal é que ele e todos os membros da mesa trabalhem em conjunto, formando uma comissão para revisar o conteúdo, garantindo que todos os vereadores tenham acesso e tempo mínimo para analisar o projeto e decidir juntos, já que é algo que ficará válido para a próxima legislatura”, disse.
Ainda segundo Letícia, o presidente da Câmara desrespeitou o procedimento e feriu o direito dos demais membros da Mesa.
“Eu me senti com meu direito violado por meu pedido não ter sido aceito, e o senhor ainda afirmou, ao final, que o projeto iria para votação, o que não pode ocorrer agora. A partir do momento em que é solicitado o pedido de vista, ele precisa ser respeitado. Só depois da análise é que o projeto pode voltar à pauta. Temos tempo para isso. Precisamos discutir de forma conjunta, com o apoio da assessoria jurídica e contábil, para que nada saia errado e para que o novo regimento seja construído com transparência e diálogo”, concluiu a vereadora.
Além das denúncias de autoritarismo, pesam sobre Cimar Soares suspeitas de uso indevido de recursos públicos. Outro ponto questionado é o uso de veículos oficiais da Câmara. O carro do legislativo, doado por emenda de um deputado federal possuía adesivo de identificação institucional, mas o selo foi retirado após Cimar assumir o comando. O veículo passou a ser usado como carro particular, inclusive à disposição do pai do presidente. Paralelamente, a Câmara alugou outro carro, também sem identificação pública, levantando suspeitas sobre gasto desnecessário com dinheiro público.
A população e parte dos vereadores cobram transparência e respeito ao patrimônio público. O caso expõe um clima de tensão na Câmara de São Miguel do Tapuio e reacende o debate sobre o uso do poder e dos recursos da Casa em benefício pessoal.
“Patrimônio público não é herança familiar. É bem do povo e deve servir ao interesse coletivo”, resume uma das críticas mais recorrentes nas ruas do município.
O espaço está aberto para a manifestação do vereador Cimar Soares. O Conecta Piauí vai continuar apurando as denúncias.
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